quarta-feira, 5 de julho de 2017

1982. A Copa que me pegou em cheio


No dia 05 de julho lá no prédio de três andares em que morávamos as brincadeiras, todas elas, cessaram mais ou menos meia hora antes do jogo entre Brasil e Itália.  A molecada andava numa alegria só.  O feitiço do futebol há tempos havia nos tomado. Mas até ali se materializava, ao menos pra mim, mais nas plásticas defesas do goleiro Manga, no astral dos "Meninos da Vila", no Flamengo do Zico. A Copa de 78 tinha ficado para trás e nossas cabeças frescas não tinham como entender tudo o que ela viria a significar, tudo que ela escondia. A de 82, não! Tinha ares de sonho. Uma espécie de ponte que nos dava a chance de flertar com o motivo que tinha levado a geração dos nossos pais, tios, a falar das seleções anteriores, em especial a de 70, como quem conta uma história de realismo fantástico.

Um tempo em que eu jamais poderia imaginar que um dia a vida me daria a chance de tomar umas e outras com o Dr Sócrates. Eta vida louca! Que falta você faz nesse mundão maltratado, meu velho. E foi bem nessa época que alguém me disse que a melhor imagem daquela derrota tinha sido imaginada pelo escritor Joca Terron. Ele afirmava que começou a assistir ao jogo menino e quando a partida terminou era um homem de barba, maduro. Acho que foi o Xico Sá que contou essa. Quando ouvi achei perfeito, porque lembro bem que, ainda que tenha demorado um pouco, terminada a partida, consumada tão retumbante derrota, voltamos todos às brincadeiras. Mas havia no ar uma sensação que deixava tudo meio turvo e que eu não sabia interpretar. A vida se encarregaria de me mostrar que aquilo era o que se sente toda vez que a vida nos rouba uma alegria ou te tira alguma coisa que você quer muito.

Por falar em imagem. A que ficou mais forte em minha memória, e hoje eu sei que na de muita gente, foi a de Paulo Roberto Falcão, depois de marcar o gol de empate no segundo tempo. Empate que teria permitido a sequência daquele sonho, fosse qual fosse o fim. É a imagem que está aí em cima em plano aberto. Mas na transmissão, lembro bem, era um super close que dava às veias estufadas de Falcão o poder do mais absurdo dos gritos. E o cinegrafista, que gostaria muito de ter como creditar, respeitoso e imbuído por aquela emoção toda foi acompanhando a corrida dele histérica pelo gramado, cravando o momento pra sempre nas nossas cabeças. O Dr Sócrates, vira e mexe, insistia na tese de que a derrota, no final das contas, fez de alguma forma aquela seleção maior. Não é teoria fácil de aceitar, mas o Magrão tampouco era homem chegado a abraçar teorias simples. É possível. A única certeza que tenho é que eu tinha quinze anos e que aquela Copa me pegou em cheio, como nenhuma outra até hoje foi capaz de fazer. Ê Doutor ! Olha eu aqui na tua onda... desdenhando dos títulos.             

5 comentários:

Adilson Delaim disse...

Não escapamos dessa data, dessa Copa. Hoje a ponto de até um reles pateta como eu ter escrito algumas linhas (há alguns anos) sobre este dia. Se puder, dê uma espiada: https://www.facebook.com/adilson.delaim

Vladir Lemos, jornalista disse...

Espiarei, por certo.

Anônimo disse...

A copa do Espanha jamais acabou...

Unknown disse...

Show, Valdir. Eu já tinha 21, mas tive a mesma sensação. Grande abraço, meu velho.

Vladir Lemos, jornalista disse...


Já tava aprontando um bocado. rs
Aquele abraço