quarta-feira, 10 de julho de 2013

Salve a molecada!

Já fiz aqui neste espaço as minhas elegias ao futebol praticado por meninos. Quando falo meninos digo desses que andam pela casa dos vinte e cujo futebol nos deixa a impressão de que ainda é possível sonhar com o triunfo do instinto sobre a competitividade. Mas acontece que faz tempo que o talento da meninada anda salvando a cabeça de muito dirigente. Se eles quando são lançados - um tanto na fogueira - dão conta do recado, do que não seriam capazes se tivessem direito a um début, digamos, mais digno e planejado?
 
Não descarto a hipótese de que esse clima de tudo ou nada a que são expostos acaba por forçar e acelerar o amadurecimento deles. Fato é que talveznão seja uma maneira justa de tratar o talento. Como sempre no futebol, quando as coisas dão certo ficam sempre com um jeitão de passeio pelo céu, um flerte com o paraíso. E o discurso que os enaltece fica parecendo um tanto oportunista. Digo isso porque o potencial das novas gerações jamais parece ter encontrado um cartola capaz de confiar plenamente nos diamantes brutos que lhes vêm às mãos.
 
Há sempre um atleta rodado na mira que, fatalmente, abocanhará uma considerável fatia da receita do clube. E em troca disso, se supõe, servirá de referência para a molecada. Não me entendam mal. Já não tinha nada contra a contratação de um Robinho. O que me move aqui é até onde vai a confiança que os cartolas depositam na molecada. Até porque não se verá por aí, em canto algum, um time formado só por garotos. E não estou sugerindo correr esse risco.
 
No entanto, também é fato que sempre haverá em um elenco profissional gente com experiência suficiente para apontar caminhos e orientar. Mas a impressão que fica pelo que temos visto é que os dirigentes acham que só alguém que ganhou o status de estrela seria capaz de ministrar aulas sobre tal matéria. Já disse em outro momento, e volto a dizer, sou totalmente a favor da molecada, mas não acho salutar apontá-los como solução.
 
A molecada não deve ser vista como um antídoto à falta de maiores esperanças que fatalmente se abate sobre times em que o planejamento esteve longe de ser perfeito. Se há uma virtude capaz de envaidecer a torcida de uma agremiação é a capacidade de não deixar a peteca cair. O futebol tem altos e baixos, todos sabemos disso, mas quando um time em duas temporadas deixa de ocupar o posto de candidato a conquistar qualquer título que dispute e condena a sua torcida a conviver com um certo temor do rebaixamento é porque alguma coisa realmente saiu errado. E aí, decidir chamar a molecada pra resolver não é coisa que se faça.

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