quarta-feira, 3 de julho de 2013

A Dilma no Bar do Zé Ladrão

Eu estava lá. Sei que parece frase saída da boca daquele tipo de sujeito que se inclui descaradamente entre os milhões que dizem ter visto a final da Copa de 50 no velho Maraca.

Mas trata-se da mais pura verdade. Eu estava lá, eu vi. Falo do dia em que Dilma entrou em rede nacional para falar sobre as manifestações que sacudiram o país. Você pode estar aí dizendo o que isso tem de mais. Pois eu lhe digo, companheiro. Nunca antes na história deste país o Bar do Zé tinha parado pra ouvir alguém falar.
 
Desde sempre a televisão que lá está era muda. Os jogos que deram o clima de tantas tardes e noites lá são vistos sem aúdio, isso mesmo. Nada pode interferir no burburinho do lugar provocado por línguas destravadas depois de algumas tulipas. Lá se fala mais do que se escuta. E isso é praticamente constitucional no venerando botequim. Ou melhor, era. Divido aqui discretamente com vocês que em dados momentos até perdi o fio da meada do que vinha sendo lido pela presidenta ali no teleprompter presidencial... tão embasbacado que estava com o clima que tomou o lugar.
 
Ouso dizer até que nos primeiros minutos não houve registro de um único gole por mais que alguns tenham se aproveitado da situação para exercitar aquele tipo de humor bélico. Lembro bem, por exemplo, de ter ouvido um invocado grito de ' sapatão' vindo de algum lugar. A coisa foi tão séria que quando a Dilma passou a citar a Copa do Mundo, outro manifesto me chamou a atenção. Alguém lá mais ao fundo ainda fez questão de mostrar sua  indignação.
_ Pô, o bicho tá pegando e essa dona ainda vem me falar de futebol? Tenha paciência!
Mas nem todo mundo estava indignado. O tio, autor da marchinha do Bar do Zé no último carnaval, e sarrista dos bons, encostado na parede com o copo apoiado no balcão, mantinha no canto da boca um sorrisinho ácido que ele mesmo faria questão de explicar pouco depois. O sujeito trabalha numa empresa que vende produtos químicos, entres os quais um que é matéria prima na fabricação de gás lacrimôgeneo e, claro, tá vendendo como nunca. É mole? E, como se não bastasse, pra não perder a veia de humorista mandou :
_ Ô Zé, amanhã nós vamos queimar uns pneu aqui em frente. É cerveja a quatro e cinquenta ou vamô quebrar tudo.
 
Foram uns quinze minutos diferentes de tudo que já tinha sido registrado nesse meio século que o Seo Zé atravessou atrás do balcão. Não vou ser cara de pau a ponto de dizer que o clima permaneceu inalterado durante os eternos quinze minutos de pronunciamento. Mas que foi coisa de louco, isso foi. Algum tempo depois de passado acontecimento tão singular, eis que surge mais um freguês. O cara entrou naquela simpatia, estendeu a mão, e perguntou:
_ E aí, como vai?
Alfredinho, o juventino, não titubeou:

_ O Brasil tá complicado. Do resto tá tudo bem!

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