quarta-feira, 24 de julho de 2013

Nós e o Papa

De acordo com o que foi divulgado, nesta quinta o Papa Francisco terá um encontro com atletas, no Rio. Ao lado de Sua Santidade - que já sabemos torcedor do San Lorenzo de Almagro, da Argentina - estarão nomes como Pelé e Neymar, entre outros. É de se imaginar que nenhum engraçadinho por lá perguntará ao sumo pontífice quem foi melhor, Pelé ou Maradona? Muito menos se versará sobre o fato de que por aqui Pelé nunca teve direito a uma igreja, ao contrário do que se deu com Dieguito, que em 1998 viu nascer, na cidade de Rosário, uma tal Igreja Maradoniana. Lá, claro, o camisa 10 argentino é deus.

Mas diante de um Papa que tem feito das quebras de protocolo uma marca, tudo é possível. E há algo de confortável no fato de saber que ele se entrega ao prazer do futebol. Mas se ele quiser ter uma boa ideia dos pecados esportivos que andam sendo cometidos por aqui sugiro que leia o recente manifesto feito pela ong Atletas pela Cidadania, que tem no seu quadro algumas das figuras mais expressivas do esporte brasileiro. Ana Mozer, Raí, Cafu, Magic Paula, Gustavo Borges. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos que nasceu com a intenção de conscientizar e mobilizar a sociedade brasileira para assuntos que consideram importantes para o país.

Depois de tal leitura inevitavelmente concluirá que o país do futebol é dono de uma infra estrutura público esportiva deficiente. Que os dirigentes de Federações por aqui se perpetuam no poder como ditadores. Que não existe, e nunca existiu, um plano nacional para o esporte. Que os grandes eventos que têm nos colocado na vitrine do mundo têm provocado remoções que violam os direitos humanos. Tudo muito mundano. Nada que seja capaz, eu imagino, de surpreender alguém que, como poucos, está ciente das fraquezas dos homens.

Mas nem tudo aqui, Papa Francisco, é lamento. Que o diga o jovem brasileiro, Alan Fonteles, de vinte anos, que dias atrás fez bem mais do que conquistar uma medalha de ouro no Mundial de Atletismo Paraolímpico. Ele quebrou o recorde mundial dos 200 metros na classe T43, com o tempo de 20 segundos e sessenta e seis centésimos. Quase meio segundo abaixo da antiga marca, que pertencia ao sul-africano, Oscar Pistorius, primeiro atleta paraolímpico da história a correr em igualdade com atletas não deficientes de nível olímpico e mundial. Meu bom Francisco! Nem tudo que acontece por aqui é fácil de explicar. Essa eficiência bonita de brasileiros supostamente deficientes, por exemplo, que nada tem de milagre

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