quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A companhia certa para o Neymar


Há um jogador atuando no Brasil que a cada dia conquista mais a minha simpatia e que não é o Neymar. Um sujeito cujo futebol e cuja postura teimam em sair do alcance dos meus olhos porque, afinal, ele joga em um clube do Rio. Em julho passado, quando conquistou a primeira vitória vestindo a camisa do Botafogo, foi visto em campo batendo palmas, orientando e incentivando os companheiros. Depois, ao ter sua atuação exaltada por um repórter que o esperava no caminho para o vestiário, humildemente respondeu que tinha feito o que sempre fez e que considerava seu papel.

Quem viu Seedorf no final de semana no clássico entre Flamengo e Botafogo pôde perceber que o que ele disse aquele dia não era um bla-bla-blá de estrela estreante, e mais, quem o viu em campo pôde constatar que de lá pra cá não esmoreceu. Mesmo derrotado foi visto em campo altivo como sempre. E o cara também demonstra atitude fora de campo. Antes do jogo com o rubro-negro saiu em defesa do treinador Osvaldo de Oliveira que muitos consideram - de forma cínica - o treinador mais educado do Brasil. Como se ser educado fosse demérito. E não o fez com um discurso vazio. "É um treinador fora do comum na sua maneira humana... Ele tem uma educação diferente que faz com que ele tenha uma capacidade de comunicação muito boa".

Seedorf tem nos brindado com declarações que estão longe de ocupar o lugar comum. Ao dizer que quando levanta aqui no Brasil está sempre sol e que isso lhe dá uma qualidade de vida muito boa pra treinar, talvez nos ajude a enxergar melhor a nossa condição. Assim como quando afirma que por estas bandas o preparador físico fala mais, interfere mais do que na Europa - onde costuma fazer o trabalho dele e ir embora - está ajudando a gente a descobrir nossas virtudes em meio a tantas mazelas.

No carnaval conheceu Neymar e disse ter ficado encantando com sua energia. Eu, se fosse Neymar ou um dirigente do Santos, ouviria muito bem o que Seedorf tem dito. Para o meia do Botafogo na seleção Neymar precisa de alguém experiente para lhe passar tranquilidade. Donde concluo que o que vale para a seleção vale para o time da Vila. Longe de entrar no oba-oba o jogador do Botafogo faz questão de dizer que não há como comparar Neymar com Messi e Cristiano Ronaldo, que estão há anos jogando em alto nível na Europa.

O jogador do Botafogo não acha que Neymar deveria ter ido para o velho continente. Acha que quem sabe jogar sabe se adaptar e que " esse será seu grande desafio na Europa, se adaptar". Seedorf quando fala sobre o assunto sempre lembra que Messi joga em um time que tem outros dois ou três atletas entre os melhores do mundo. É tamanha a lucidez pra falar e jogar que eu tenho certeza de que vou parar de escrever agora, mas vou ficar pensando sobre o que poderia o Neymar se tivesse um cara como Seedorf ao lado dele.

* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos   

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