quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Cadê o futebol ?

Depois de desfrutar do nobre direito das férias, herança deixada pelo governo Getúlio Vargas, contemplar alguns entardeceres e arejar a cuca, cá estou a batucar estas linhas para o nosso reencontro ainda em meio ao bafo escaldante desse verão que ensaia nos deixar.

As agruras são as mesmas, se renovam como as estações. Está pra nascer o dia em que o regulamento do Campeonato Paulista estabelecerá um preço máximo para os ingressos, evitando assim que cartolas do nosso interior possam acreditar que colocar o preço nas alturas seja mesmo a melhor maneira de tirar proveito da passagem de um time grande por suas cidades.

Pra quem não sabe, ou já não lembra, o ingresso mais barato para a partida entre Catanduvense e Palmeiras custou míseros oitenta reais. Mas não pensem que mazelas são exclusividade do futebol. No nosso honrado Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, tratou de cuidar da sua reeleição e se garantir no poder até 2016.

Nesse nosso país que vai se acostumando, depois de muita dor e injustiça, a ter presidentes eleitos pelo povo, o esporte está longe de ser um exemplo de democracia. Ao contrário, um forte odor de Mubaracks, Kadafis e afins exala das nossas piscinas, pistas, quadras e campos.

E o que se passa com o Santos ? Pode-se dizer muito do time da Vila, menos que tenha nos últimos tempos honrado a fama de ser o melhor, ou um dos melhores times do país. Ganhar, ou não, não é o caso. O caso é que não se vê em campo o menor sinal de um time que não foi desmontado.

Não há futebol e a impressão que tenho é a de que não há conjunto, o que pode ser mais nocivo do que a falta de futebol. O embarque pra Bolívia, para encarar o The Strongest, se aproxima. Já vou avisando que não sou do time dos que costumam colocar em dúvida a capacidade de Muricy Ramalho. Considero o treinador, ora santista, um dos mais legítimos da classe.

Quando estava em campo provou sua capacidade e, mais tarde, no banco, está aí com toda a sua estatura. Consagrado. Mas os problemas do time da Vila, às vésperas de viver a beleza e o entusiasmo de seu primeiro centenário, não são poucos.

As laterais preocupam. De um lado por escassez de talento, e do outro porque uma geração está cara a cara com o fim. Pará, que devo dizer, talvez tenha sido o jogador que deu a virada mais espetacular na carreira que já vi, depois de amargar fase difícil para em seguida deslanchar e conquistar o respeito da torcida, voltou a ser uma incógnita.

E olha que tempos atrás quase ninguém seria capaz de dizer que Pará não era um jogador que dava conta do recado. Passou. Pode voltar, é verdade, sempre pode. Maranhão? Que fatalidade essa última! Mas ainda não esqueci que no jogo contra o Paulista, naquele lance em que ficou com a missão de acompanhar e parar Renan Marques, não mostrou - como diria o técnico Tite - estar com a " faca nos dentes".

A defesa do peixe, experiente, tem dado caldo ralo. Ou engrossa, ou engrossa. Embora valha lembrar que o Santos, ao esbaldar criação, deu-se até o direito de ter uma defesa em estágio inferior ao ataque, o que pode aborrecer os pessimistas e que os otimistas podem até classificar como um luxo.

Mas, ao que tudo indica, se houver um revés não terá sido por falta de gols. Se Borges não é artilheiro, quem é? De Neymar, nada a dizer a não ser que tome cuidado pra não se molhar nessa chuva de festas e badalação. E o Ganso. Ah! O Ganso. Trata-se, no meu modo de ver, do mais elegante jogador desse longo e bom momento santista. E acredito que não seria exagero dizer que se trata até do mais elegante jogador da história recente do futebol brasileiro.

Agora, na minha cabeça a imagem de um maestro desafinado e com dificuldade de retomar o ritmo perfeito é a melhor imagem para descrevê-lo atualmente. No meio do caminho, no domingo, há o Linense. Pouco importa. Até a bola rolar pela Libertadores tudo terá sido sido irrelevante, depois não. Depois a temporada começa pra valer, e aí, será preciso mostrar futebol. E cadê?



*artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos

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