quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O pecado de um santo

No começo ele disfarçou bem, tão bem, que quase ninguém desconfiou que quem estava ali não era um homem como os outros. Com seu jeito cordial e sua humildade foi visto durante um bom tempo apenas como um sujeito de bom coração, bem intencionado. O problema era que ele tinha uma missão, e não seria impossível levá-la adiante sem causar certa comoção. Afinal, milagres são milagres, e ponto final.

Os primeiros sinais de elevação foram interpretados pela multidão de maneira tranqüila, mesmo porque há tempos a fé tinha deixado de ser uma das grandes virtudes daquele povo. Mas, aos poucos, os homens e mulheres que frequentavam aquele templo foram percebendo que estavam diante de alguém que podia lhes oferecer muito mais do que esperavam. Não era uma época de grande fartura. E ele lhes deu tudo o que podia.

Não foram raras às vezes em que, usando apenas as pontas dos dedos, mandou pra longe o que seria motivo de muita tristeza entre os seus. Ele os protegeu do indesejado. Mergulhou com eles num mundo de conquistas e, como se fosse inevitável, se tornou um líder. Todos o ouviam, todos deixavam que ele falasse em nome deles. Os milagres foram se acumulando, acumulando, até que um dia seus seguidores, testemunhas de tantas obras, não foram mais capazes de conter tamanha euforia. Passaram a chamá-lo de “São Marcos”.

A fama logo correu. Foram anos vivendo nessa condição singular. E ele tinha bem mais do que os atrativos divinos para encantar. Sabia contar causos. Era homem simples, desses que só se encontra em pequenas cidades do interior. E trazia consigo, além de tudo, um sorriso forte, uma fibra contagiante. Como todos os Santos, não teve vida fácil. Passou por grandes provações. E de cada uma delas voltava sempre mais forte.

O problema é que dos Santos jamais se espera ouvir certas verdades mundanas. Aos Santos não é dado o direito de ceder ao instinto e muito menos o direito de errar. O acusaram de querer fazer o que não sabia. Jogar com os pés. O acusaram de querer expor as deficiências dos outros.O acusaram da mesquinhez de querer resolver tudo sozinho.

Não por acaso, quando reapareceu, um tanto resignado, se dirigiu aos seus com palavras precisas. Disse que poderia .."ser julgado pela atitude, não pela intenção", e que tinha feito tudo ..."de boa fé, pensando em ajudar". Nessa história, mais incômodo do que o próprio castigo será, talvez, a ausência de uma absolvição.

Escrevo essas palavras antes que a provável penitência seja proferida. Minha intuição diz que, silenciosa, ou não, ela não tardará, ainda que ele, emocionado, jure diante de um tribunal interno que só fez tudo o que fez porque sentiu pesar sobre seus ombros o dever de salvar os seus, como tinha se habituado a fazer.

É que passado tão tempo, ele já havia aceitado de maneira profunda o seu papel de Santo. E a multidão, ao vê-lo errar, esteve longe, muito longe de ser capaz de compreender que estava diante de um homem, não de um Santo.

Marcos é dessas figuras que ultrapassam as fronteiras de um time. É dessas figuras com lugar garantido no panteão do nosso futebol. Assim sendo, para tentar entender melhor esses momentos da última rodada, que levaram um Santo ao julgamento, tenho fé no pensamento eternizado por um poeta nascido em Minas, que sugere o seguinte:

“ O pecado é irmão gêmeo da virtude...”.




* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos

8 comentários:

Anônimo disse...

O Marcos passa por essa barra-pesada. A torcida vai continuar com ele, sempre. Espero que a diretoria pare de fazer tanta besteira. E o Luxemburgo, parece que não sabe de quem está falando quando fala dele. E elogia o Ceni...

Anônimo disse...

Creio que tem um pouco de tudo nessa história...
A intocabilidade do Marcos com o Palmeiras, sua torcida e sua história e o fato de que o Luxa é muito menor que tudo isso e tem certo ciúmes da figura do Marcos.

Mas que belo texto. E perfeita narração e pensamento.

Abraço.

Ton

Anônimo disse...

To sem tempo, mas ainda volto pra ler.Até!

Vladir Lemos, jornalista disse...

Marcio,

você falou algo interessante, porque quando a "barra" pesa, tudo começa a ficar meio estranho mesmo.

Abraço

Vladir Lemos, jornalista disse...

Ô Ton,

tem um pouco de tudo mesmo. Agora pense como seria bom se a torcida fosse capaz de protestar de maneira inteligente.


Abraço procê

Vladir Lemos, jornalista disse...

Inté Núbia, inté!

Abraço

Anônimo disse...

Viva o MARCÃO!!! Mas não sinto inveja dos palmeirenses, nós temos o MARQUES!ôôôlêêê Marquêêêsss!!!

Anônimo disse...

Ola Vladmir eu ganhei no sorteio a Bola do programa, qndo ela chega aqui em Casa?? Um abraço, fiica c/ Deus !!