sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A dor e a delícia

O que trago pra vocês hoje, estampado nesse canto de página, são reminiscências de um domingo esportivo, o último domingo. Não digo que serão palavras felizes ou desencantadas. A única certeza é a de que para refletir o vivido será preciso se dividir.

Se dividir entre a euforia e a desilusão. Se dividir entre o sublime e a necessidade de perceber que certos dias trazem acontecimentos que precisam ser deixados pra trás, precisam ser aceitos, para que não sejam em nós uma semente de tristeza. Mesmo porque a vida não se resume, e jamais se resumirá, a uma corrida de fórmula um, a um jogo de futebol ou a uma maratona.

E o esporte por esse prisma, que o revela imprevisível, surpreendente, grandioso, é uma bela metáfora das nossas próprias vidas. Afinal, quando tomamos consciência do que somos, descobrimos também que estar exposto a vitórias e derrotas é parte do jogo.

Vejam, aquela final do Grande Prêmio de Fórmula 1, em Interlagos. De tão improvável, chegou a ser vista como uma grande orquestração pelos mais desconfiados. Uma glória tão próxima, que no calor dos boxes, pudemos ver até como seria a comemoração daquela família brasileira se Timo Glock não tivesse entrado nessa história meio que como um zagueiro que marca um gol contra. Ah! Se ele tivesse um pouco da precisão de outro alemão, um tal de Sebastian Vettel.

Mas passou.
Aos ainda traumatizados, claro, peço perdão por escolher nessa hora palavra tão dúbia.

Naquela mesma tarde a chuva lavou a Vila Belmiro, onde dois improváveis tentos, um em cada tempo, iam marcando a história do clássico entre Santos e Palmeiras. Uma vitória daria um brilho diferente ao time alvinegro em ano tão opaco.

Eis que aos quarenta e seis minutos do segundo tempo - quando algumas gotas ainda caiam - um cruzamento da esquerda fez a bola viajar quase em direção à outra lateral, e no meio do caminho encontrar o pé de Léo Lima. Um gol que fez o time do Parque Antártica renascer. Um gol que colocou o Palmeiras na liderança do Campeonato Brasileiro por alguns instantes, trazendo de volta o mesmo feitiço, que um pouco antes, brincava com o coração do nosso jovem piloto.

A vida jogava mais uma vez na nossa cara que vitória e derrota são separadas por uma fina linha.

Uma fina linha que Marílson Gomes ultrapassou, também naquele domingo. De luvas pretas e braços protegidos do frio, nosso maratonista se pôs a correr atrás de um novo triunfo na afamada Maratona de Nova York. E ele mesmo deve ter pensado que não ia dar. Tinha sido ultrapassado no quilômetro trinta e cinco, algo como errar o tipo de pneu na Fórmula um, ou levar um gol nos minutos finais no futebol.

Mas “sprint” é palavra santa pra qualquer corredor. E não é que o menino teve a benção? Saiu em disparada, olhando pra trás, cabreiro, para evitar ser surpreendido por esses acontecimentos indesejáveis do esporte.

Não demorou muito pra avistar o fim. E como se estivesse num sonho, fechou os olhos ao sentir a fita da linha de chegada tocar seu peito.

O esporte não é mesmo uma ótima metáfora da vida?
Onde mais estamos tão expostos a dores e delícias?

4 comentários:

Anônimo disse...

É muito mágico, é assim que vejo o esporte, mágico.

Anônimo disse...

Eu ia falar/teclar outro dia e esqueci. Você e o Torero tem textos muito parecidos, digo por bem, na verdade não sei explicar, mas quando leio o blog dele e o seu, um me lembra o outro.Até mais.

Vladir Lemos, jornalista disse...

Núbia,

negar que o esporte tenha magia seria insanidade. E se há mesmo alguma semelhança com o Torero isso me deixa feliz.

Abç

Anônimo disse...

Vladir, meu dileto blogueiro...
A semelhança com o Torero pra mim está óbvio nas mesmas escolhas: a paixão pelo esporte, pelo Jornalismo, pelas palavras e pelo nosso Peixe!

Mas de fato, essa magia é quase que inexplicável... Tão inexplicável quanto o amor, a vida, a existência...
Aliás, explicações completamente desnecessárias, diga-se...

Grande abraço e parabéns pelo grande texto.

Ton
waguaru@ig.com.br