quinta-feira, 4 de setembro de 2025

A seleção no Maraca

Foto:Gov. Estado do RJ- Divulgação


A noite desta quinta-feira pode deixar certos torcedores nostálgicos. E não é pra menos. Veremos a Seleção Brasileira se apresentar no Maracanã. Time e estádio perderam prestígio, mas não perderam a majestade. Será, quem sabe, uma noite pra não deixar dúvida de que nas mãos de Carlo Ancelottii a história pode mesmo ser escrita de um modo diferente. Talvez nem todos lembrem, porque é daquelas páginas que pedem pra ser esquecidas, que a última apresentação no templo chamadMário Filho foi um fiasco danado. Naquela noite, não bastasse a confusão que se estabeleceu no setor sul  - e acabou envolvendo os jogadores argentinos preocupados em defender compatriotas e familiares que estavam por lá - pela primeira vez na história das Eliminatórias o Brasil perdeu uma partida jogando em casa. 

E nem perdemos levando um gol de Messi, o que acabaria por ser mais aceitável. Fomos derrotados por um gol solitário marcado pelo zagueirão, Otamendi. Vejam vocês. Aquela noite, que teve o time brasileiro chamado de sem vergonha e olé entusiasmado vindo das arquibancadas quando os adversários teimavam em ficar com bola, só não soou mais terrível do que a passagem de Fernando Diniz pelo cargo. Ao se despedir, pouco depois, tinha se tornado o primeiro treinador a perder um jogo pelas Eliminatórias em casa, o primeiro a sofrer três derrotas seguidas no torneio e o primeiro a perder para a Colômbia nele. De quebra tinha colocado por terra uma invencibilidade de trinta e sete jogos do time brasileiro. 

Justiça seja feita, o castigo de Diniz, ainda que merecido, ganhou ares de tragédiaE, insistindo em fazer alguma justiça, a Colômbia andava jogando bola. O que não tem sido nem um pouco o caso dChile, lanterna das Eliminatórias e que chega ao Maracanã no dia de hoje carregando o fardo de ter sofrido até aqui uma dezena de derrotas. Secretamente, até Dom Carlo, homem tão curtido de grandes experiências futebolísticas, deu pistas de que irá sentir lhe correr pela espinha uma sensação diferente  na hora em que o túnel lhe entregar a visão de um Maracanã funcionando a todo vapor. Pode até, quem sabe, ter desenhado um time levando em conta todo esse contexto. Um time, não digo mais brasileiro, pois nesse quesito dessa vez se mostrou mais comedido, mas um escrete pra frente, para usar um termo que os que venham mesmo a ficar nostálgicos na noite de hoje vendo a bola rolar irão entender com facilidade. 

Um verniz de brasilidade que talvez se fizesse bem expresso na figura de kaio Jorge, que vem roubando a cena com a camisa do Cruzeiro e ocupa neste momento o posto de grande artilheiro do principal campeonato de futebol do país. Não basta ter quatro atacantes, é preciso ter alma. No mais, fico aqui tecendo suposições sobre como veremos a Seleção ocupar tão nobre palco. Intrigado sobre como Ancelotti resolverá a questão das laterais, que têm sido uma provação para muitas equipes. E imagino que a intrigante convocação do experiente e improvável, Douglas Santos, seja de alguma forma uma prova do quanto isso vem mexendo com a cabeça dos treinadores. Pois que jogue o fino se tiver a chance. 

A fragilidade do adversário sugere um jogo sem maiores complicações, mas costuma morar justamente aí a veia sobrenatural do bendito futebol. E é bom, diante da festa possível, não esquecer que a atribuladíssima história recente da CBF comprometeu todo o ciclo entre a última Copa e a que vem aí. Não faz muito tempo - corria o mês de março de 2022 - fechávamos as Eliminatórias, justamente diante do Chile, e no Maracanã, vencendo por quatro a zero e garantindo a vaga no Mundial do Qatar de maneira invicta. O que sugere que lá pra cá andamos para trás e e talvez explique  a razão do torcedor brasileiro andar desiludido. Mas, apesar de tudo, dessa opacidade que a falta de virtuosismo e de beleza depositam sobre a carcaça do nosso escrete, uma noite com Seleção Brasileira e com Maracanã ainda continua sendo diferente das outras.