Começamos esta semana vendo a Seleção Brasileira inaugurar uma nova era. Talvez mais correto seja dizer o futebol brasileiro entrar em uma nova era. E, confesso, essas minhas palavras iniciais me fizeram lembrar que outrora o escrete nacional, de algum modo, representava mesmo nosso futebol . O tempo parece ter afastado os dois. É só uma impressão. Mas não é que Don Carlo topou assumir a bronca? Nada me tira da cabeça que só topou porque, no fundo, se trata de uma aposta breve. Tirando os compromissos iniciais contra Equador e Paraguai restarão míseras três rodadas das Eliminatórias e depois disso será cuidar da logística pré-Copa que poderá muito bem ser desenhada de forma que o novo técnico da Seleção não precise estar exatamente no Brasil. Se a negociação envolvesse todo um ciclo talvez a disposição fosse outra. O que acho compreensível.
Mas, seja como for, pode contar com a minha torcida, mas que não conte com a de todos. Digo isso porque pressinto por trás de declarações polidas como a dada por Carlos Alberto Parreira, uma pontinha de secação. Não sei se é essa exatamente a palavra. Disse o ex-treinador e campeão do mundo dias antes: preferia um treinador brasileiro, mas Ancelotti é bem-vindo. E em seguida afirmou que o treinador tem que vivenciar o país. E esse é um detalhe que, confesso, tenho curiosidade para ver como será tratado pelo italiano. Mas não deixo de considerar que até nisso poderá nos surpreender. Ter dito que quer aprender português pode ser uma pista nesse sentido.
Fato é que Ancelotti poderá mudar radicalmente nossa maneira de encarar aquela velha questão sobre técnico ganhar ou não ganhar jogo. Enfim, faço firulas aqui para dizer que a chegada de Ancelotti soa a mim como um divisor de águas, como algo que condena a versão mais terna da Seleção Brasileira que trago comigo a parecer ainda mais distante. Tinha onze anos em 1978. Me divertia inocentemente com o cabelão solar de Marinho Chagas, que acabou fora do mundial mas não das minhas lembranças de moleque. Quatro anos mais tarde pintaria na área a Copa que acabaria cravada no imaginário da minha geração como uma tatuagem. E se falo da minha geração é porque hoje considero que aquele futebol era feito sob media pra nós. Dos mais velhos exigiria inocência demais. E para os mais novos, creio, era de uma profundidade que comprometia a compreensão.
Enfim, estes dias de contornos tão singulares me deixam a impressão de que era uma vez a Seleção. A minha seleção. Não como um time escalado, mas como sinônimo do que o nosso futebol tinha de mais louvável. E a minha Seleção, desde sempre, teve Zico, Sócrates e Falcão. Tinha outros, mas não com tamanho ar de majestade. Uma majestade que com alguma licença poética ouso dizer que nem mesmo o título de 1994 conseguiu ter. Embora seja impossível esquecer a cena de Roberto Baggio mandando a bola pra longe. Uma final de Copa disputada nos penaltis tinha algo de premonitório, não sei. E Carlo Ancelotti estava lá no Rose Bowl. Era auxiliar da seleção italiana, comandada por Arrigo Sacchi. E nem vou falar da esculhambação que ao longo do tempo corroeu toda a credibilidade da entidade que comanda não só a nossa seleção mas nosso futebol. Não consigo crer que, como dizem alguns, o que rola nos bastidores não entra em campo. O que eu sei é que ainda não conseguiu apagar a melhor lembrança que trago comigo da Seleção. Hoje , mais do que nunca, uma Seleção de outros tempos.