O capítulo final do que pode ser interpretado como a nossa temporada se deu com o Botafogo levando três do Pachuca, o que fez do embate citado ao mesmo tempo a estreia e o adeus do time carioca na Copa Intercontinental. Essa mesmo que, segundo um amigo, dependendo da empolgação de quem a nomina é chamada de Mundial. Fez bem a torcida do Bota ao fazer festa na volta porque apesar da derrota o ano já estava ganho. E bem, faço questão de acrescentar. Tenho notado apreço por este momento do ano por algumas razões. Mas a principal delas é o fato de tal capítulo nos obrigar a refletir sobre o lugar que o Brasil ocupa no mundo da bola.
Não que ao longo dos últimos anos ao insistir no exercício tenhamos chegado a alguma conclusão notável. Longe disso. Mas sinto que as ditas mesas redondas nessa hora ganham um tom mais filosófico. O que desde sempre me agradou. Gostaria muito de poder dizer a vocês que tenho algo de valioso a acrescentar nesse emaranhado de opiniões. Mas tendo em vista os trancos levados nos últimos tempos relego minha contribuição a uma humilde sugestão: deixemos de lado as comparações com o sabidamente nobre futebol europeu - com quem todos os mais mal vestidos sonham fazer par - e passemos a nos medir com o futebol mexicano que se encarregou de nos dar o mais novo choque de realidade.
E, olha, vou poupá-los de comparações que soariam mais cruéis. Como sugerir um comparativo com o futebol do Congo. Imagino que os mais íntimos do jogo não tenham esquecido o castigo que nos impôs um certo time chamado Mazembe. E pra quem acha que foi em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, que o futebol brasileiro teve bons motivos para crer que já não era mais aquele, vos digo, como quem lustra memórias, que houve um outro momento em que, mesmo com todo mundo sabendo que as vezes estar pra lá de Marrakesh pode ser uma boa, o futebol brasileiro foi incapaz de ultrapassar essa bendita fronteira se vendo derrotado por um certo Raja Casablanca.
E talvez esse seja um bom capítulo para elucidar o lugar que cabe a cada futebol nos dias de hoje. Lembrem-se de tudo que andou fazendo o futebol marroquino depois daquilo. E soa até místico que essa última lição nos tenha sido dada pelo Pachuca, pois eis um time do México onde um dia fizemos o mundo deixar de duvidar que éramos o padrão da excelência em matéria de futebol. E esse mesmo México talvez possa nos balizar em outro sentido. Pois andamos vivendo um tempo em que tentam nos convencer da evolução do nosso jogo nos mostrando cifras. E elas andam mesmo gordas. Eu sei que as coisas podem ter mudado. Mas alguns anos atrás o futebol brasileiro já faturava mais do que o dobro do mexicano. Graças, especialmente, aos direitos de transmissão. E talvez resida nisso a parte mais dolorosa do castigo a que esses tira-teimas nos condenam, que é mostrar que faturar mais não te faz necessariamente um vencedor.