quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

O fim da cera



Há muita coisa além do VAR que tem contribuído deveras para azedar nosso divertimento com o futebol. É fato que, inventado o jogo, ficou óbvio que a humanidade foi pródiga em produzir sujeitos que se acham mais espertos do que os outros. E disso sabe bem não só o mega craque cujo destino lhe deu a ventura de encher as burras jogando no velho continente ou nas Arábias, como sabe também o mais mortal dos peladeiros que desfilam por aí. Mas talvez em matéria de brincar com a nossa paciência só a cera praticada pelos goleiros soe como páreo para o árbitro de vídeo. Não que a cera seja exclusividade dos arqueiros. Não se trata disso. 

Acontece que com o jogador de linha ela passa a ter um sem fim de artifícios para dissimula-la. Seja encenando dores lancinantes em virtude de uma ponta de pé que mal lhe tocou o tornozelo ou esticando os braços para que o adversário o ajude a lidar com uma câimbra virtual. Não que os goleiros não façam uso dessas artimanhas. Mas boa parte das vezes, na hora da reiniciar a peleja, estão ali apenas eles e a bola. E quanto mais importante for o jogo mais a cera se faz proveitosa. Diria que a partir daí tudo passa a se resumir a um embate entre a cara de pau do outrora camisa um e a capacidade do árbitro em lidar com ela. Mas nem tudo está perdido meus amigos. 

Leio aqui que a FIFA já testa em campeonatos da base inglesa uma regra que puniria com escanteio o arqueiro malandrinho que não vier a soltar a pelota em oito segundos. É fato que já existe a regra que pune esse tipo de engraçadinho com um tiro livre indireto. Mas ela é raramente usada. Senti um leve alívio ao ler isso. Quem sabe o Brasil não seja o único no planeta em que certas não leis não pegam. E quem diria que isso nos seria revelado ao versar sobre os que têm a missão de pegar e teimam em não soltar. 

Mais alvissareiro foi saber que uma vez implantada a tal contagem regressiva os dados mostraram que nas setecentas e noventa e seis vezes em que a bola foi parar nas mãos de um goleiro eles nunca ultrapassaram os oito segundos. Ora, essa meninada fina assim só pode estar querendo acabar com a alma das peladas. A regra agora irá agora ser testada na Itália. E lá trocarão o tipo de punição. Ela não será feita com escanteios mas com laterais. O que significa que o nobre leitor talvez tenha de seguir tomando um lexotam para continuar aturando a cera que todo mundo sabe que mexe com nossos nervos. 

Seja como for achei a ideia muito bacana. Afinal, já temos telões em boa parte dos estádios mostrando pra torcida as cenas de terror produzidas naquela bendita cabine do VAR. Colocar um cronômetro ali com um sinal sonoro potente não implicaria grandes esforços. Sugiro inclusive um sinal bem estridente daqueles que o goleiro que o fizesse soar acabaria vaiado pelas duas torcidas. Tem de ser por aí.    

Nenhum comentário: