quinta-feira, 1 de junho de 2023

O futebol moderno



Difícil saber o que seria exatamente a vanguarda do futebol mundial. Mas se ela existe provavelmente está intimamente ligada à grana de Estados Autocráticos que há pouco mais de uma década viram no futebol a ferramenta ideal para expandir sua área de influência. Daqui do hemisfério sul não foi difícil notar isso quando Nasser Al Khelaifi, presidente PSG e CEO de um fundo de investimentos ligado ao governo do Qatar não se intimidou diante das cifras que precisaria honrar para tirar Neymar do Barcelona e fazer dele o jogador mais caro da história na ocasião. Estava ali exposto pra quem quisesse ver que se tratava , acima de tudo, de um negócio de Estado. 

Daqui a alguns dias veremos o Manchester City em campo decidindo o principal torneio de clubes da Europa. E ninguém melhor do que o City , de Pep Guardiola, para exemplificar essa vanguarda. É fato que o resultado talvez não fosse o mesmo se a estrutura milionária colocada à disposição do treinador catalão não estivesse aliada a alguém como ele. Mas essa é outra história. Interessante é notar que a maior vítima de tudo isso até agora tenha sido justamente o Real Madrid, atual campeão europeu de clubes, que se viu encurralado no jogo de volta das semifinais de maneira poucas vezes vista. Justamente o Real, de Florentino Peres, que outrora com gastos estelares fez cair sobre o time madridista a fama de galáctico. Com toda a pompa e vaidade que ela guardava.  

Há um sem fim de questões que vêm na esteira de tudo isso. O futebol virou um tipo de negócio que dá a impressão de ser cada vez mais íntimo de grandes esquemas, sujeito à lavagem de dinheiro ou a conivência com questões pra lá de delicadas como a dos direitos humanos. Algo que a passagem do futebol mundial pelo Qatar durante a última Copa só fez ficar flagrante. Ninguém há de dizer que o futebol gerado por essa realidade não é de encher os olhos. Talvez fosse o caso de se perguntar o quanto ele pode ser considerado verdadeiramente real.  Seja como for é fácil demais entender porque é que dias atrás as manchetes anunciando o interesse do PSG em investir no Santos causou tanto eco. 

Ainda que seja um exercício desafiador compreender como seria possível ficar com a grana sem se render à lei das SAF recém instituída.  Não existiria negócio no mundo tão bom, ao menos pra uma das partes, do que usufruir de uma fortuna sem necessariamente entregar a galinha dos ovos de ouro. Talvez nos falte tempo para acompanhar de perto todos os desdobramentos causados pelo fato de o futebol ter ganho esse tamanho geopolítico e por estar à merce dos interesses de Estados como o de Abu Dabhi. O City chegou ser multado pela UEFA e se ver suspenso por duas temporadas da Champions League há cerca de três anos. E certamente não foi por ser bonzinho. 

O City se viu emaranhado nas questões do tal Fair Play financeiro. Um caso que  expôs totalmente a Premier League, símbolo mor nos dias atuais do que deve ser um torneio nacional. Em julho de 2020, meros cinco meses depois de a UEFA ter anunciado o banimento do City a Corte Arbitral do Esporte anulou a decisão. Se alguém no futebol mundial ainda pode prescindir da grana que jorra desse imenso jogo de interesses de Estado certamente não são alguns dos maiores clubes do mundo. Ao mesmo tempo que um sem fim de outros nem pensarão duas vezes diante da oportunidade de entrar no time.  

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