sexta-feira, 23 de junho de 2023

A grande aposta



Se o futebol já não é o mesmo, olhar pra nossa Seleção é a melhor maneira de se convencer que o que passou passou. Os tempos são verdadeiramente outros. A cada dia um jogo de seleção fica mais distante  do que é estar diante de um bom jogo entre clubes. Chega a ser desleal. Tá certo que isso é coisa que vale mais para o futebol europeu do que para o nosso. Mas quando se trata de seleções falta de magnetismo é meio geral pelo que sinto. Como é fato que amistosos, no nosso caso, há muito tempo parecem ter os adversários escolhidos para que fiquem ausentes de peso. Digo isso com respeito a seleções como a da Guiné.  Senegal se fez respeitar. E o Marrocos pode ter sido um erro de cálculo. A realidade empurra a todos nós para aquela condição de torcedores de Copa do Mundo. E preparem-se porque até elas já não serão como eram. 

Mas vejam como a coisa anda feia pro lado do torcedor. Desde o início dos tempos  cornetar o treinador da Seleção Brasileira é um dos maiores prazeres que o jogo de bola oferece , só perdendo para o prazer de cornetar o juiz. E não é que a CBF agora, ao aceitar essa condição de que Carlo Ancelotti só assuma o escrete nacional no ano que vem, roubará dos torcedores até isso. Cornetar alguém que sabidamente estará no posto de passagem está longe de proporcionar o mesmo barato.  Que o presidente da CBF apostou alto é difícil de discordar. Mas, desconfiado que sou,  vou ter a coisa como certa só quando o nobre italiano desembarcar por estas bandas e puder ser visto vestindo agasalho lá pros lados da Granja Comary.  

Prova de que Ancelotti está muito acima dos outros é que não vimos até agora nenhum coro bradar contra essa coisa de entregar o comando da Seleção Brasileira a um estrangeiro. O que vem a ser ao mesmo tempo a constatação de que para quem comanda o nosso futebol não há entre os treinadores brasileiros alguém com envergadura suficiente para assumir o cargo.  E se em tempos muito recentes vimos aqui entre nós ser ensaiada uma renovação nesse sentido ela parece ter se dissolvido. No Brasileirão, por exemplo, há dois nomes que pairam revestidos de excelência já faz um bom tempo. Um é o treinador do Palmeiras, Abel Ferreira. O outro, o do Fortaleza, Juan Pablo Vojvoda. Dois estrangeiros. Mas no meio de tudo isso fica a impressão de que a CBF com essa sua grande aposta não quer se colocar em rota de colisão com os clubes. Uma lógica que tira do jogo um nome como Dorival Júnior que, gostem ou não, dá a impressão de viver sua maturidade profissional. 

E por falar em treinadores, seguem aí na cena do  futebol brasileiro dois que passaram pelo comando da Seleção. Um é Vanderlei Luxemburgo. O outro, Luiz Felipe Scolari.  O primeiro, se não teve o sucesso do segundo no posto, conseguiu algo pra lá de raro que é ter comandado o Real Madrid, hoje justamente sob a batuta de Ancelotti. Enfim, de minha parte vos digo que acho essa história toda muito esquisita.  Mas fico pensando que se um dia Carlo Ancelotti vier fatalmente fará o torcedor brasileiro, cornetando ou não, resgatar parte da fantasia que um dia a Seleção Brasileira tão bem representou. 

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