quinta-feira, 8 de junho de 2023

Quem sabe perder?



Desde sempre lidar com a derrota foi um desafio. Não por acaso ao longo dos tempos ouvimos tanto por aí que o que importa é competir e não vencer. Não necessariamente nessa ordem. Afinal, em algum momento, profissionais ou não, perdemos. E inevitavelmente talvez o tenhamos feito de forma retumbante porque como escreveu certa vez o mestre Nelson Rodrigues até a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana. E traz consigo todos os céus e abismos nela contidos, ouso complementar. Acho que a questão visivelmente extrapola a questão esportiva. Vejo que  em especial  os mais novos têm mostrado uma dificuldade imensa de lidar com a frustração. Vira e mexe dou de cara com artigos falando sobre isso. E a derrota, pra destituir a definição da mesma de qualquer coisa mais rebuscada, é uma frustração. Se enquadra nisso, embora a frustração possa ter  evidentemente outras naturezas. Ele nunca aceitou perder é algo muitas vezes dito em tom de aprovação. Ou não é? 

Falo disso depois de ter testemunhado o que se deu dias atrás na final do segundo torneio de futebol 

mais importante do velho continente, a Europa League. A decisão feita em jogo único teve prorrogação e acabou nos pênaltis o que pode ter ampliado em cada atleta a expectativa da vitória. Vá lá.  E se cito esse episódio é para dizer que não é algo que se dê por aqui apenas, como costumamos  ser levados a crer. Aliás, as mazelas costumam ser universais e o jogo evidenciou isso também porque a atuação do árbitro foi um tanto terrível e se tratava de um profissional acostumado a apitar jogos do campeonato inglês que, gosto sempre de lembrar, é tido como modelo para quase tudo no mundo da bola.  


Por um instante achei que a coisa se daria de modo diferente . Pois os jogadores do campeão Sevilla, depois de se esbaldarem nas comemorações do título não sei bem se por vontade própria ou orientados pela organização se postaram em duas linhas formando um corredor pelo qual passaram os vice campeões da Roma. Os jogadores do time italiano cruzaram esse corredor sob aplausos adversários. Até ali um exemplo de comportamento esportivo.  Mas eis que muitos jogadores da Roma ao receberem as medalhas de prata iam longo as arrancando do pescoço. Alguns só a colocaram depois da insistência da figura que tinha a missão de entregá-las. E ainda assim iam tratando de tirar a medalha de cena poucos passos depois quando ainda estavam na mira das câmeras que iam exibindo a repulsa deles ao vice-campeonato. 


Talvez tenham se inspirado no próprio treinador, José Mourinho. O português depois de reunir o time à vista das câmeras num ponto do gramado, sugerindo que estava ali a distribuir palavras que enaltecessem o que seus comandados tinham feito, logo tratou de se encaminhar - antes e sozinho - ao palco e receber sem colocar no pescoço a medalha que lhe cabia. Medalha que ele minutos depois ofereceria a um torcedor em gesto também flagrado pelas câmeras.  Mourinho é sem dúvida um vencedor, mas tenho pra mim que se alguém não sabe lidar sabiamente com a derrota dificilmente o fará com a vitória que, estamos cansados de saber, é infinitamente menos didática. 

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