quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

O caminho do futebol é o da grana





Naquele início de dezembro de 2010 quando num evento, pomposo como sempre, realizado na Suiça, as fichas com os nomes da Rússia e do Qatar foram mostradas e o mundo ficou sabendo qual seria o caminho das Copas depois de passar pelo Brasil os mais atentos não ficaram surpresos. Talvez tenha sido o resultado mais fácil de se prever da história. A razão é muito simples: o caminho das Copas tem sido faz tempo o caminho da grana. É possível pensar que nem sempre tenha sido assim se conseguirmos crer que dinheiro e interesses não são a mesma coisa. 

O Brasil tinha recém torrado pouco mais de dezesseis bilhões fazendo, portanto, a Copa mais cara da história, mas a Rússia alardeava que estava disposta a gastar quase trinta. Na época o vice primeiro ministro russo, Igor Shuvalov, disse que nunca iriam se arrepender da escolha. O que me faz pensar o quanto a Copa não ajudou a turbinar o poder de Vladimir Putin que insiste em fazer pairar sobre o mundo nos dias de hoje a ameaça de uma guerra nuclear. Os russos tinham o argumento de jamais ter recebido um mundial e o de abrir de vez um grande mercado.  Argumentos meio gastos. Tinham sido usados antes para embasar candidaturas como a dos Estados Unidos e da África. 

Ao Qatar bastaria apontar o cofre. Mas o protocolo tem lá suas exigências. E para dar conta dele nada como bradar aos quatro ventos a possibilidade de se realizar pela primeira vez na história um Mundial no Oriente Médio. Fato é que o mundo acabou vendo coisas mais singulares do que isso. Uma Copa realizada em dezembro. Um Mundial com graves acusações de violações de direitos humanos como nunca se tinha visto. Enfim, o tempo passou e pouca gente se deu conta da cifra que envolveu esse capítulo da história do futebol. O Qatar gastou, ou diz ter gasto, mais de um trilhão de reais. Isso mesmo, um trilhão. Não se trata de um erro de digitação.

Não duvido que a cifra soe até normal para o orçamento deles que têm colocado verdadeiras fortunas também para construir museus. Pagando valores astronômicos em obras de arte e projetos assinados por arquitetos mundialmente famosos. Diz o dito popular que quem pode, pode. Como se diz também dos bem sucedidos que não costumam brincar em serviço. O que cai como uma luva pra descrever os homens da FIFA. Farão agora a Copa voltar aos Estados Unidos, dessa vez a estendendo pela América. Colocando também Canadá e México na jogada.  Apesar de tudo, das crises, os EUA ainda são um grande mercado. E por mais que a Arábia Saudita diga que não tem uma candidatura elaborada ela está inevitavelmente no caminho das Copas. Como o Qatar que, não é de hoje, faz com o futebol transações que mais  parecem negócios de Estado. 

Que a Arábia Saudita não veja o futebol como uma maneira de melhorar sua imagem é difícil de acreditar. Não fosse assim, qual a razão de ter levado pra lá há tempos as decisões da Supercopa da Espanha e da Itália? Ou de ter promovido dias atrás um amistoso envolvendo o PSG, que simplesmente colocou Messi e Cristiano Ronaldo frente a frente? Mas sedutor mesmo para a FIFA, essa pra lá de endinheirada entidade sem fins lucrativos, é saber que a Arábia Saudita tem um fundo de dois trilhões e meio de reais para financiar o que o país achar interessante. E sabendo disso, o que você me diz, o futebol fará, ou não, o caminho da grana?  E o ex-presidente da FIFA, Joseph Blatter blefou, ou estava errado, quando disse que a Copa do Qatar tinha sido um erro? 

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