quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Quem salvará Vini Júnior ?




Se a memória não me trai, faz tempo que não abraço neste espaço um personagem. Tenho um fraco por eles, os grandes, claro. E vou  carregar sempre uma ponta de inveja, das boas, de um Mário Filho ou de um Nelson Rodrigues, que sabiam com raríssimo talento elegê-los e, mais do que isso, descrevê-los. E esse eleger é o detalhe porque quando digo que gosto dos grandes isso nada tem a ver com nobreza. Um personagem pode se fazer imenso sendo simples. E personagem para mim, não é de hoje, tem sido o jovem Vinicius Júnior. 

O episódio em que um boneco vestido com a camisa dele apareceu enforcado num viaduto da capital espanhola pouco antes do clássico entre o time dele, o Real,  e o Atlético de Madrid é de um simbolismo macabro. Apesar disso estar muito claro em um primeiro momento temi que a coisa fosse esquecida. Quando um ou dois dias mais tarde veio a notícia de que o ocorrido estava sendo investigado pela polícia e tinha sido levado a outras instâncias me interessei de vez. Tenho acompanhado os desdobramentos. Considerei alvissareiro quando no final da última semana a polícia informou que tinha encontrado impressões digitais e até traços de DNA no boneco enforcado, bem como imagens de carros suspeitos e suas placas, o que foi possível graças as imagens registradas pelas câmeras que monitoram o trafego na região. 

Vinicius Júnior é bom de bola e todo mundo que entende um pouco de futebol já sacou. O que lhe permitiu o requinte de justamente no jogo entre o Real e o Atlético de Madrid  ter não apenas ajudado deveras o time dele , mas também ter anotado o gol que definiu a vitória de virada do Real por três a um. E quem vê esse garoto de vinte e dois em campo, com seu sorriso largo, seu jeito leve, pode custar a acreditar que se trata de alguém que tem estado sob ataque constante nos últimos seis meses. Alvo de atos preconceituosos, racistas. Quisera neste momento pesassem sobre ele apenas os descontentes com as danças que Vini curte fazer ao marcar um gol. 

E como se não bastasse tudo isso voltou a ser manchete na última quinta ao sofrer uma entrada desleal do zagueiro brasileiro, Gabriel Paulista, no jogo contra o Valencia que o Real ia vencendo por dois a zero. Gabriel se desculpou, disse que não estava orgulhoso do que tinha feito. Que não teve a intenção de machucar e que a má fase vivida pelo Valencia o tem deixado com os sentimentos à flor da pele. É fato, o time de Gabriel anda flertando com a parte mais baixa da tabela e sabemos todos o que isso significa no mundo da bola. O que eu não consigo deixar de levar em conta é o quanto tudo o que tem sido dito e feito a Vinicius Júnior não fez dele um alvo. E o quanto não continuará fazendo. No final de semana contra o Mallorca tudo se repetiu. 

Vinicius Júnior talvez seja de longe o melhor que o futebol brasileiro produziu nos últimos tempos. O cara que continua de alguma forma nos fazendo acreditar que nosso pais segue sendo uma fonte inesgotável de talento, com todo o potencial suicida que pode se esconder nisso. Vinicius Júnior precisa de proteção literalmente. Ontem, enfim, a La Liga anunciou a criação de uma Comissão para cuidar disso. Inspetores, segundo eles, serão colocados em setores considerados problemáticos.  Mais importante do que isso, foi o presidente, ainda que tardiamente, ter dito o óbvio: " La Liga não pode ter um jogador que vai a todos os estádios e é insultado". Pois vou além, digo ser lamentável que a CBF  não tenha se pronunciado diante de tal gravidade, ou que  o Real Madrid com todo o poder que tem até agora não tenha levantado a voz nesse sentido. Falar em sentimentos à flor da pele a essa altura não passa de canalhice.

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