quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

É catimba ! É dia de Derby !


Não sei se você jogou bola um dia, se ainda joga. Ou se pretende. Diante dessas possibilidades a segunda coisa que gostaria de saber é que tipo de boleiro você foi ou seria. Com essas informações conseguiria imaginar melhor como encara os rompantes do treinador palmeirense à beira do gramado. Jamais sugeriria aqui que os tais se comportassem como lordes na área técnica. Nada disso. Também não vou furtá-los do meu testemunho a esse respeito. No tempo em que joguei bola, e faz um bom tempo que não tenho jogado mais, quero crer, fui um sujeito equilibrado na medida em que o jogo de bola permite. Não era do tipo esquentadinho. Longe disso. Mas também nunca fui santo. 

Pra usar um termo atual diria que sempre fui um boleiro reativo. Capaz de perdoar qualquer canelada sem maldade mas implacável com as embebidas em deslealdade. Faço esse recorte para tentar elucidar o tamanho da mudança de rumo no discurso do treinador palmeirense Abel Ferreira. Em março do ano passado, ao ser entrevistado no programa Roda Viva, da TV Cultura , disse que ao dar de cara com as cenas dele na beira do gramado sentia vergonha do que via. E dizia que precisava melhorar isso. Como disse também que é uma pessoa tranquila mas que ali se transformava. E deixou o discurso ainda mais sólido ao reconhecer que para alguém que fala tanto em controle emocional dentro do gramado era preciso alcançar essa condição estando à beira dele. 

Pessoas serenas que se descabelam quando a bola rola, vos digo, são os tipos mais comuns neste universo. Ocorre que dias atrás, bem depois de ter sido expulso pela enésima vez com direito a mandar para o ar um dos microfones da transmissão, Abel voltou ao assunto agora dizendo que é um cara competitivo por natureza, o que agrada a uns e a outros não. E seguiu dizendo que na área técnica faz o que é preciso pra ganhar. E mais, que é um boneco, um ator, e que mostra o que interessa. É bem verdade que antes disso voltou a dizer que reconhece que precisa mudar. E disse que quem quiser saber dele não deve perguntar a jornalistas e sim a seus ex-treinadores e jogadores. 

Mas há aí uma verdade que complica as coisas. Abel, afinal, não existe só para os seus. Os palmeirenses , por exemplo, o amam. E diria que até por isso. Com toda a capacidade que tem, o que para mim está óbvio, Abel põe a maior fé numa certa embolada no meio de campo como dizem e também está convencido de que, em matéria de futebol, é preciso jamais deixar que os outros ganhem no grito. Crenças que desde sempre foram como mandamentos para  os boleiros.  A trajetória que Abel vem desenhando não deixa a mínima dúvida sobre sua excelência profissional. 

Mas parece óbvio que para quem quer crescer esse tipo de comportamento e , mais do que isso, a construção dessa imagem só irão jogar contra. Talvez seja o caso de mirar-se no modus operandi de um Pep Guardiola, que ostenta lá a finesse dele mas quando acha que a coisa ficou ruim pro time ou pra ele não pensa duas vezes em colocar os pingos nos is.  E todo mundo quando pensa no catalão certamente não o enxerga como um vilão. Que seja ator esse Abel, mas que trate de dar uma boa polida no papel. Mas depois de ouvir em sua última versão duvido que mude pois estou convencido que tudo não passa é de catimba. E nada melhor pra testar todas essas teorias do que um Derby, é ou não é?           

 

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