quinta-feira, 5 de maio de 2022

Visitas que valem ouro

                                                    Foto: Marcos Zanutto/AGIF
 

Se há uma coisa que teoricamente o esporte precisa preservar é a igualdade de condições. Coisa que em matéria de futebol se viu ameaçada desde que a profissionalização venceu a parada e se instalou de vez no esporte bretão. Em outras palavras, desde que a grana entrou na jogada. Semanas atrás a questão envolvendo o mando de campo voltou à tona com o Corinthians indo enfrentar a Portuguesa carioca em Londrina. Como veremos em breve a Juazeirense receber o Palmeiras por lá também. Dizer que nos dois casos, não fosse a questão de onde jogar, os times  estariam em condições iguais não é o caso. O que evidencia que o mando de campo, de certa forma, é o último bastião nesse sentido.  

Puristas como eu tendem a concordar que se trata de crime de lesa torcida colocar um time num avião e fazê-lo jogar longe daqueles que podem ser chamados de seus.  Defendo, portanto, que ao invés de se entregar de primeira à sedução de investidores interessados em comprar o mando esses times ditos menores deveriam é pensar em explorar melhor esse tipo de oportunidade. Sabemos que muitas vezes a casa deles não dá conta das exigências impostas pelas  fases mais avançadas de certos torneios. Mas o que deveria norteá-los é mais ou menos o que norteou a lei que fez poderosos brigarem e que decretou que o mandante é o tal. 

Talvez, arrumar um estádio o mais perto possível do seu, que dê conta das exigências, em cidade de porte razoável, onde a ilustre visita que irão receber poderia ser traduzida em faturamento também. Mas não um exílio, não tomar essa atitude de praticamente abandonar o seu chão fazendo a balança pender totalmente para o lado do adversário que já goza de tanto. Mas esse tipo de situação é boa pra que se jogue luz sobre a miséria do futebol brasileiro. Futebol que, ao contrário do que muitos pensam, não é o mundo endinheirado de Palmeiras, Atléticos e tais. Nada disso. Foi na esteira desse assunto que acabei ouvindo o testemunho de um companheiro de profissão contando o que viu o próprio filho viver ao ir jogar num clube modesto da Bahia. Uma realidade do tipo oito atletas dividindo o mesmo quarto, muitas vezes comendo feijão e banana. Tendo de encarar fila pra tomar banho. E como fez questão de ressaltar, isso em um time da primeira divisão. 

Não serei aqui um radical defendendo que esse tipo de transação não deva ser feita. O que defendo é que esse tipo de oportunidade seja explorada da melhor forma possível. Afinal, se tem uma coisa que pode incrementar o caixa dos mais pobres é essa visita ilustre. Tá claro que é algo que desafia o planejamento. Difícil crer, por exemplo, que os dirigentes da Juazeirense  achassem que precisavam se preocupar com a Copa do Brasil para além do encontro com o Vasco, time que acabaram deixando pelo caminho e que deu a ele essa rara oportunidade de faturar.  Gostaria de poder pensar nos torcedores que ficam sem ver o time do coração. Ainda que não sejam muitos merecerão sempre respeito, um tratamento digno. Pra que se tenha uma ideia da realidade vivida pelos pequenos deixo aqui registrado o público do jogo da Juazeirense contra o CSE na estreia do Brasileiro da Série D. Meros cento e um pagantes. Isso mesmo. E a renda, são capazes de imaginar? Dois mil e vinte reais. Donde concluo que  pra maioria dos times brasileiros ter direito a um mando de campo diante de um grande é quase como ganhar na loteria. 

Nenhum comentário: