quinta-feira, 19 de maio de 2022

A seleção resumida



Sabe-se lá à quantas anda o humor do nobre leitor com a nossa seleção. Não sei, mas posso imaginar. Sobretudo o interesse. Não foram poucas as vezes em que escutei gente dizer por aí o seguinte: não gosto de seleção, gosto de Copa do Mundo. Acho que vem a calhar essa lembrança, em especial, porque a sensação que tenho é a de que cada vez mais a seleção parece se resumir a isso. Vou além, aposto que não será difícil buscar na memória recordações de velhas matérias jornalísticas citando o fato de que mesmo tão perto do início dos últimos Mundiais nosso país ainda não tivesse entrado no clima. O que, lembro bem, se deu na última Copa realizada aqui no nosso país. 

Alguns podem não entender esse estranhamento. Aos mais novos digo que sou de um tempo em que não se tinha como levantar uma questão assim porque bem antes de a bola rolar as ruas já estavam todas pintadas coisa e tal. Os jingles feitos pra ocasião já tinham entrado na nossa cabeça pra não sair nunca mais. E se digo, meio cruelmente, que hoje a seleção se resume a isso é porque foi-se o tempo em que as Eliminatórias davam algum barato. Exceção feita, talvez, a um Brasil e Argentina, ou Uruguai. E olhe lá. Se a Copa que se avizinha fosse, digamos normal, a essa hora estaríamos quase no embalo do ponta pé inicial. 



Mas as peculiaridades do país anfitrião farão com que o momento se dê quando o mês de novembro estiver já na sua segunda quinzena e os Papais Noéis junto com as luzes de Natal já tiverem entrando em cena. Algum iluminado pode vir a ter a ideia de vestir o bom velhinho de verde e amarelo. Logo ele, tradicionalmente vermelho num país em que o tom scarlate virou um pouco a antítese do verde e amarelo. O que me faz pensar que não é má ideia dessa vez pedir a ele que nosso Brasilzão chegue inteiro até lá. Pois infelizmente somos obrigados a reconhecer que mais difícil do que voltar a vencer uma Copa será ter direito a uma eleição tranquila, respeitosa, civilizada, sem gente que insista em derramar sobre ela tons incendiários. 

Mas voltemos ao tema, mais ameno e menos indigesto. Como a última convocação foi feita com antecedência não duvido que hoje mesmo, ou nos próximos dias estas páginas tragam  a notícia de que por causa de certas questões esse ou aquele convocado tenha dado lugar a outro. Ainda que não imagine que isso venha a alterar em nada a paciência ou a simpatia do torcedor pela nossa seleção. Não acho que Danilo vá a Copa.  E não estou dizendo que não mereça. Chego a achar até discutível que se chame a essa altura alguém pra não levar. Pensaria diferente se achasse que Tite pode, faltando tão pouco tempo, incluir alguém nessa barca. 

Tite, que não custa lembrar,  teve todo o tempo possível, o tempo que quase ninguém teve. Um ciclo inteiro para pensar, para trabalhar. Mas não deve nos espantar se não trouxer o caneco porque não é de hoje que é só na Copa que o escrete nacional acaba dando de cara com o futebol em sua totalidade. Não esse praticamente resumido à América do Sul. Onde nossa hegemonia tem acabado por se revelar inútil.  Mas não fará mal algum, se interessando ou não pela seleção, que o torcedor ponha na cabeça - e já pôde constatar isso - que nem mesmo um triunfo mundial no Qatar será capaz de fazer do nosso futebol o que ele foi um dia. Como foi a paixão pela seleção. 

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