quinta-feira, 12 de maio de 2022

Era uma vez o time titular



Entrou pra história um certo ataque santista. Tenho certeza de que o caro leitor já o  ouviu ser recitado pelas mais diversas vozes.  Depois que Pelé e seus mais afinados parceiros fizeram o que fizeram pelos gramados do Brasil e do mundo... Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe virou uma espécie de mantra. Sinônimo de excelência. Por mais que vez ou outra eu já tenha visto gente por aí sugerindo tirar um daqui colocar um Jair ali e por aí vai.  A récita é legado nobre de um tempo que definitivamente ficou pra trás. Digo que definitivamente porque segundo meu amigo Arnaldo Ribeiro esta será a temporada do rodízio. Dos times pensados pra cada ocasião. Dos times montados com olhos na sala de fisiologia. Dos times escalados só depois de atestados pelos departamentos médicos. Rodízio aqui, caso tenha dado de cara com estas linhas e não seja do métier, nada tem a ver com carnes nem restaurantes com oferta de comida de fazer corar os gringos.  

Rodízio é o meio que os treinadores dizem estar usando para lidar com o calendário canibalesco do futebol brasileiro. Onde o excesso de jogos aliado à intensidade dos mesmos se transformou  em ameaça que pode afastar do triunfo até o mais bem armado dos elencos. Não é difícil entender o descontentamento da torcida com relação a essa prática de ares tão modernos.  Como se não bastasse o futebol meia boca que virou a ordem quando se trata do jogo de bola por estas bandas, agora poder ver em campo os melhores jogando juntos virou coisa rara.  Imagino o torcedor se preparando pra ir ver uma partida, decidido a gastar uma grana com ingresso e, de repente, se dando conta de que poderá acabar se sentindo um tanto traído já que a possibilidade de o treinador decidir poupar uns e outros é muito grande.  E assim alimentar em si esse desconforto de ficar a mercê de quem manda pra valer no time. 

Em outros tempos sonhava-se que as duas partes pensariam da mesma forma, fariam as mesmas opções. Onde já se viu dirão alguns. E quem fecha a cara para esse modus operandi não é só o torcedor.  Zico em entrevista concedida recentemente disse com todas as letras que nunca gostou desse negócio de rodízio. Roberto Rivellino não cansa de mostrar sua indignação com essa coisa dos treinadores não terem mais um time titular. Bom, para mim começa justamente aí essa salada. Não é que não tenham. Nós é que não sabemos qual é. No fundo acho que todo treinador sabe muito bem quais são seus onze iniciais, como costuma se dizer. Podem não saber no começo. Mas passado um punhado de jogos e suplícios qualquer um que seja do ramo já saberá muito bem quem prefere. A intuição terá lhe sugerido em quem pode confiar.  E disso, acredito, ninguém escapa. 

Infelizmente é  impossível ter certeza. Ainda mais nesta época esquisita em que os clubes não divulgam informações, os treinos são fechados. Uma época em que tudo contribui para que o ambiente que cerca o futebol tenha um quê de ficção. Podemos no máximo desconfiar. Houve um tempo em que os treinadores escondiam as escalações complicando, principalmente, a vida dos repórteres. Mais do que saber se  Abel Ferreira, Vitor Pereira e companhia têm, ou não, um time titular na cabeça gostaria de saber o quanto  conseguem manipular essa situação. Se usam a possibilidade para outros fins, como esvaziar um clássico, por exemplo. E é bem provável que o descontentamento nasça, verdadeiramente, pelo simples fato de o torcedor ter desde sempre um time titular na cabeça. E é esse time que ele gostaria de ver em campo sempre.   

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