sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Futebol (pra nós) é paixão


Vocês são o que o futebol brasileiro é: paixão. Talvez a frase de Jesualdo, técnico santista,  nem tenha sido exatamente essa, não importa, o espírito era. E ela me fisgou. Mesmo a sabendo de uma simplicidade absurda, quase óbvia. E é bom que se diga que  Jesualdo depois ainda a completou tentando fazer seus interlocutores na sala de imprensa perceberem que isso contaminava tudo. Os jogadores, a imprensa, a arbitragem. Olha não é de hoje que tenho me divertido com a interpretação que os treinadores que vêm de fora têm feito de nós, do nosso jogo de bola. 

Foi assim com Sampaoli, tem sido com Jorge Jesus, infinitamente mais afiado do que o argentino nesse sentido, mas em tal quesito ouso dizer que Jesualdo, no brevíssimo tempo em que está entre nós, dá pinta de que  tem tudo para suplantar os dois. Gosto do tom, que deixa transparecer certa impaciência mas sem cometer o pecado de descambar para o mal educado. O que nestes tempos que correm deve ser louvado. Estão, me parece, na contramão dos nossos, sempre querendo rebuscar o tema. Enquanto os gringos esbanjam simplicidade e, armados dela, vão na veia. 

Ausente que andei, pois de outra forma não se chega nem perto de se desfrutar o que costumam chamar de férias, ainda assim pude sentir no ar como exigiram do português Jesualdo logo de saída. Portanto, cabe dizer , ou reafirmar - pois tudo o que coloquei aqui vai nessa direção- que o discurso do homem deixa transparecer um profissional à altura do desafio. Ainda que pensar em ganhar guerras sem armas não passe de quimera. Sei que tem sido lugar comum nas últimas temporadas ressaltar as fragilidades do clube santista. Mas como se deu desde sempre boas campanhas costumam salvar a pele de muita gente e dar aos cautelosos um ar de anunciadores do apocalipse. 

Mas seria muito salutar que o torcedor santista não fizesse  do trabalho excepcional de Sampaoli na temporada passada algo que pese sobre o trabalho do novo treinador. Mas pedir isso só seria viável se não fossemos todos embebidos em paixão como disse o próprio. E seria bom também que quem manda no Santos não tratasse essa sensação de fragilidade do time como coisa de opositores ou de gente que faz questão de jogar contra. Que levassem em conta, ao menos, que pode existir nisso uma intuição  -um tanto coletiva - a ser considerada. No mais , um juiz idiota a ponto de um punir um drible de Neymar. Fagner, insistindo em macular toda sua categoria com aquela dose de brutalidade de sempre. Enfim, o jogo de bola me escancara de primeira que não estamos em um admirável mundo novo. Mas, vejam, agora temos Jesualdo.


* artigo escrito para o jornal " A Tribuna", Santos/ SP

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