quarta-feira, 17 de julho de 2019

Respeito é bom !



Sabemos que vivemos num pais singular. Ou você conhece outro onde a lei precisa pegar?  E algumas, sabemos, não pegam, como dizem. Lembro dessa nossa incomoda singularidade para falar do futebol feminino. Terminada a Copa da modalidade dias atrás não faltaram manchetes anunciando o sucesso do torneio, cuja final teria tido mais público aqui do que nos Estados Unidos. E não custa lembrar: o time norte-americano era um dos finalistas e acabou se sagrando pela quarta vez campeão mundial. O problema com o futebol feminino não é bem esse, mas de certa forma faz lembrá-lo pois a CBF - pressionada pela FIFA - impôs a lei e o clube da Série A que não tivesse sua versão feminina estaria impedido de jogar o Brasileirão este ano.  Não que dado o descaso com que a maioria sempre tratou o futebol feminino  a decisão não tenha sido merecida. 

Sei  que o futebol feminino não é unanimidade e imagino o humor de certo leitor que tenha chegado até aqui interessado mesmo é no futebol de sempre, o masculino. Mas outras leituras, em especial as sobre política, já devem ter dado pistas de que o papel do jornalista é criar certos desconfortos. Talvez seja o caso de colocar logo em campo a declaração de uma das jogadoras do Sport Recife, que foi a razão de eu ter escolhido o tema. As palavras da atleta Sofia Sena podem sim - como afirmou a coordenadora do time pernambucano - terem sido ditas no calor da hora. Sob o peso de quem  tinha acabado de levar de nove a zero do Santos. Mas tem lá sua dose de verdade. 

Sofia, disse o seguinte: Elas (as jogadoras do Santos) treinam todos os dias e a gente mal tem horário pra treinar. Elas convivem com a bola e a gente mal toca na bola. Falta foco do clube em nós. Falta o investimento que a gente não tem de nenhuma forma. Se vira do jeito que pode , tem um horário, uma professora para ensinar vocês, uma bola e se vira aí, o resto a gente que resolve. Eu acho que isso não ganha jogo. A gente pode ter raça, vontade, amor, mas isso não vai ganhar jogo. E estava dito. Interessante notar o grau de consciência a respeito da realidade ao admitir que nem a raça , nem a vontade e nem amor irão resolver a questão. Possibilidade que o torcedor, inocente, gosta muito de cultivar. Mas Sofia está perto demais do futebol para acreditar nisso. 

A realidade é que o Sport, bicampeão estadual, dissolveu todo o departamento da modalidade semanas antes do Brasileirão começar. Mas para não acabar excluído tratou de montar uma equipe às pressas. Alguns times têm problemas financeiros é verdade, outros, como parece ser o caso do Santos, se mostram compromissados com a modalidade.  O que não quer dizer que estão salvos. Ontem, na  véspera do jogo contra o Iranduba, em Manaus, a treinadora Emily Lima fez questão de mostrar as jogadoras do time santista dormindo no saguão do hotel, depois de uma longa viagem, com escala, porque não havia quarto para elas. A logística, que é feita por um empresa contratada pela CBF, também esteve entre os motivos apresentados pela coordenadora do Sport ao justificar a indignação de Sofia.  Pelo que temos visto a verdade sobre o futebol feminino no Brasil é que os clubes se viram de uma hora pra outra tendo de lidar com ele - forçados por uma lei - e o administram neste momento sem terem consciência do que pode e representa. Sem respeito, enfim.

Nenhum comentário: