quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

O olhar dos craques


De quanto tempo você precisa pra conseguir entender um jogo de bola? Não digo entender no sentido tático e técnico tão em moda. Não se trata disso. Falo de uma coisa mais tênue. Talvez o certo fosse perguntar quanto tempo você demora pra sacar qual é a de uma partida de futebol. Decidi tocar no assunto porque na semana passada ao rever o lendário Rivellino ele me contou que tinha acabado de ver uma partida do Sul-Americano sub-20. Estava indignado com o que tinha testemunhado. Pelo visto tinha captado a alma da coisa. 

Depois disso não tardou e nossa jovem seleção, apesar da vitória sobre a Argentina por um a zero na despedida, a única no hexagonal, desenhou no Chile uma campanha sofrível. Foram três empates, três vitórias e três derrotas. Pela terceira vez nas últimas quatro edições não conseguiu uma vaga  no Mundial. E não culpemos o treinador, que ostenta bons trabalhos com outras seleções de base. O x da questão, pra mim, é que se trata apenas de um sintoma, o mal é outro, ou outros. O futebol brasileiro vem sendo ultrapassado, os adversários, não é de hoje, estão tirando toda a vantagem que um dia claramente tínhamos sobre eles.  Ainda que a gente insista na mania de olhar pro papel e dali fazer nascer a conclusão - errada - de que perdemos tendo times melhores.  Melhor é quem vence, com raras exceções. 

Mas a razão do meu questionamento é que o descontentamento do Riva me fez lembrar que ao longo da vida fui testemunha de como os grandes jogadores são capazes de fazer a leitura de uma partida em míseros minutos. Míseros mesmo.  Quer ver um cara que era incrível pra isso? O Sócrates! Quando fazíamos juntos o Cartão Verde lembro de em várias ocasiões pararmos pra assistir um jogo antes de ir ao ar. Todo mundo lá de olho pregado no que se passava, tentando entender a peleja. Aí o cronômetro mal tinha ido além dos cinco minutos e o sujeito tascava um comentário breve . Uma mistura de observações de ânimo e estilo de jogar. Em resumo, uma análise do que se estava vendo e do que ainda seria visto. 

Não raro o comentário encontrava alguma resistência. Era difícil crer que tão brevemente seria possível desvendar tudo. Mas o tempo ia passando e a coisa ia se desenhando exatamente do jeito que o Doutor tinha cantado. E o mais impressionante disso é que a previsão se dava nos limites da paciência que ele demonstrava com o jogo de bola atual. A saber, mínima. Outro traço, aliás, que une estes homens que faço aqui personagens. Muitos do que conheci e conheço deixavam transparecer uma certa saturação. Compreensível. 

Não só porque nunca é fácil encontrar depois algo que se compare aos dias em que fomos jovens e felizes, como também pela qualidade do que se tem pra ver nos dias de hoje. Não há como não lhes dar razão depois ver tudo o que temos visto em campo. Escrevo e me vem o desencanto vivido no último domingo. Terminado o primeiro tempo, distraído, me vi diante do resumo do que tinham feito de melhor Novorizontino e Corinthians nos quarenta e cinco iniciais. Uma pobreza de doer. E não me venham com essa conversinha de que estamos em início de temporada. Isso anda parecendo é o fim dos tempos em matéria de futebol.  

2 comentários:

Unknown disse...

Olá Vladir! A anos venho falando que futebol brasileiro vem se apequenando enquanto outras escolas avançam, o problema está na base... Só sobe jogadores táticos que se preocupam e cumprir função e não tem qualquer familiaridade com a bola. Usemos a eliminação do São Paulo como exemplo, o que faltou para o time não foi "garra", "sangue", "vontade", "dedicação"... O que faltou foi futebol, simples assim... O time joga uma futebol microbiano só visto por quem usa uma microscópio com um ultra zoom... Você pode até perder tempo fazendo uma analise tática, pura perda de tempo, hoje nossos times não competem mais com os times sulamericanos e isso é fato, veja as mais diversas partidas.

Enquanto não melhorarmos a qualidade do nosso jogo e dos nossos jogadores, não voltaremos ao estágio que tínhamos no passado. Hoje o Brasil é só mais uma país que joga futebol, com jogadores tão normais quantos os outros e olha que a próxima copa do mundo será a última do Neymar o último jogador de nível Brasil que nós produzimos, sem ele nossa seleção é igual a qualquer outra na América do Sul. E assim seguimos com os salários aumentando e a bola diminuindo!

Vladir Lemos, jornalista disse...


Pois é, Reinaldo. Tá difícil. Abs