quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Os caprichos da história


Em matéria de história diria que a primeira impressão nem sempre é a que fica. De cara lembro aqui de um exemplo, que me parece claro, da acomodação que se dá com o passar dos anos.  Falo da Copa do Mundo de 1994. Recordo muito bem a insatisfação da torcida, a falta de empolgação com o time do Parreira. E olha que era um time que bem, ou mal, estava colocando um ponto final num jejum de Copas que já nos castigava havia mais de duas décadas. O descontentamento era imenso. E, portanto, não foi por acaso que o capitão Dunga na hora de erguer a taça se tornou também o primeiro capitão da história a proferir palavrões com ela em mãos. 

Poderia ser parte do estilo Dunga, poderia, não creio que foi o caso. Mas o tempo passou e hoje em dia quando se fala daquela seleção  as pessoas vão longo lembrando da dupla Bebeto e Romário com um sorriso no rosto. Enfim, a coisa se dá com uma boa vontade que não lembro ter visto enquanto o fato se dava. E isso não é exclusividade do futebol, nada disso. Sabidamente a história não costuma tratar os fatos  exatamente como boa parte de nós os enxerga. E o que me fez lembrar disso foi certa curiosidade sobre a forma como a história irá tratar esse Palmeiras que acabamos de ver triunfar, com certa incontinência de continências. 

Dois títulos e um vice em três Brasileiros disputados é coisa que soa rara. Como raro foi o segundo turno da equipe. O que me deixou também  com a impressão de que as análises feitas a respeito do Corinthians do ano passado também traziam consigo uma dose de equívoco. A saber. Diziam aos quatro ventos que um primeiro turno como aquele do Corinthians era coisa que não se veria tão cedo. Ponto de vista corroborado depois de um segundo turno com evidente queda de aproveitamento do time comandado por Fábio Carille, que trama sua volta ao parque São Jorge. 

Com esse Palmeiras de Felipão tivemos a prova de que não era bem assim, pois o time de Bruno Henrique, Dudu & cia fez um turno à altura aquele. E ainda ganha um corpo se levarmos em conta que suas quatorze vitórias e cinco empates  se deram no desenrolar do segundo semestre quando juram todos, ou quase todos, que o futebol dos times já se revela seriamente comprometido pelo desgaste do nosso calendário vampiresco.  É óbvio que o time alviverde tinha muito mais recursos, e por essa razão não soa tão surpreendente. Mas esse era um detalhe que ninguém levava em conta. 

Ninguém dizia à época, por exemplo, que seria preciso gastar muito dinheiro para fazer algo parecido com o que andava fazendo o Corinthians. Mesmo porque a história já mostrou que dinheiro nunca foi garantia direta de consagração.  Dizia-se que o que estávamos vendo era um ponto fora da curva e pronto.  Ao Palmeiras atual falta alguém com a envergadura de um Evair ou de um São Marcos. Mas o caminho está pavimentado. E a conquista de um título continental na temporada que virá certamente obrigará a história a se curvar a esse Palmeiras endinheirado dos dias que correm e coloca-lo em um lugar, em geral, reservado aos grandes esquadrões, algo que mesmo diante de todo o brilho tenho a impressão de que ela ainda não fez.

Um comentário:

Reinaldo disse...

Olá, Valdir. Tudo Bem?

Sou palmeirenses, mas reconheço que o que o Corinthians de 2017 fez foi algum fora da curva, o time tecnicamente era muito limitado, mas o que o Carille fez foi um milagre, na tática ele conseguiu equilibrar com times tecnicamente bem superiores a ele tanto quantidade de jogador quanto na técnica... Dúvido que haja outro "Corinthians".

Em termos de filofosia de futebolistica aquele time assim como a seleção de 94 acabou contaminando o futebol brasileiro a jogar o anti-futebol, negar a bola. Acho que falta nos times daqui um treinamento mais efetivo para construir jogadas, trablaho de ataque e furar defesas.

Muito se fala do poder de investimentos dos clubes brasileiros ante aos irmãos sulamericanos, mas mesmo os times sulamericanos mostram um futebol mais equilibrado, defensivo e ofensivo enquanto aqui saímos para visitar para praticar o anti-futebol.

Somos times basicamente regionais e domésticos, ano que vem você novamente verá times como Flamengo e Palmeiras jogando anti-futebol e pensando em como empatar em 0 a 0 fora de casa.