quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Pontos de vista

 

Quando Raphael Veiga andava esquecido no Palmeiras um velho amigo de redação não cansava de encher a bola dele. Santista que é, não se conformava que o clube não tivesse olhos pra ele, que ninguém fosse lá conversar. Atravessou boa parte da temporada passada insistindo nisso e o tempo se encarregou de mostrar que estava coberto de razão. Adoro conversar com o figura, que é dono de um olhar treinado e que, acreditem, costuma fazer pouco dos medalhões, cuja capacidade conhece de cor e salteado. Dez minutos de papo e o sujeito fatalmente o faz  olhar - com outros olhos - pra uns três ou quatro jogadores que andam por aí sem serem notados. Em geral, garotos, distantes - ainda - da fama e que por isso mesmo o mundo da bola e a crônica costumam esnobar. O fato é que o futebol brasileiro descobriu, ou redescobriu Rapahel Veiga, com justiça, mas tal achado jamais será novidade pro meu amigo aqui. E o futebol está cheios de casos do tipo. 

Raro é ver um treinador com o moral do Sampaoli baixar na nossa área.  Se a intenção era causar furor deu certo. A mim chega a intrigar que uma administração contestada tenha se mostrado tão precisa na hora de escolher os nomes para comandar o time da Vila Belmiro.  Jair Ventura chegou quando era nome dos mais cobiçados. E por essa razão imagino que convencê-lo tenha sido também uma prova de bom uso  do que o  Santos representa. Mas que os envolvidos em tal louvor não pensem que se trata de algo que pode durar pra sempre. Depois veio o Cuca e, ainda que o time não tenha acabado na Libertadores, em algum momento, sob o comando dele, a torcida pôde se divertir achando que era possível - não provável - estragar a festa palmeirense. Enfim, pode-se falar o que quiser de Jorge Sampaoli. Pode-se até duvidar do atual momento que atravessa, mas que é um nome de respeito isso é. 

De resto, como dizem, o título de mais querido nunca coube tão bem ao Flamengo. O rubro-negro anda tão sedutor que Marinho não se aguentou e mandou algo no estilo me chama que eu vou. Vejam só. Seduzido também andou Felipe Melo. Sabe, intimidação sempre fez parte do universo esportivo. Mas de minha parte não tenho apreço por nada e ninguém que faça o futebol ficar meio parecido com rugby ou, em última instância, lhe empreste um certo clima de MMA. Gosto mesmo é de saber que um cara como Fernando Diniz  voltou a ter um time pra chamar de seu. Coisa que interpreto como aceite de ousadia, de topar  trilhar um caminho diferente. Mas a bola da vez é o atacante Pablo. 

Gostei da sinceridade dele ao dizer pra um repórter depois da conquista do título da Sul-Americana que precisava daquilo, tinha doze anos de clube. Expôs assim a veia pouco indulgente do futebol. Um cara que andou fazendo tudo o que ele fez não deveria ter essa dependência. Mas o jogo é cruel nesse sentido e ter consciência disso jamais irá fazer mal a qualquer boleiro.  Há coisas que custam a mudar. Está aí o Felipão com seu estilo e sua história pra provar, pra mostrar que antigas receitas continuam sendo de uma eficácia danada. Mas acho que não dá pra não reconhecer o valor de uma nova geração de treinadores que aos poucos vai entrando em cena. Seria brigar com a história. O pecado da ausência de resultados continuará não sendo perdoado. A gente tá cansado de saber que o que é dado aos medalhões é só um tempo um tanto maior para as orações. Vai que rola algum milagre.

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