quarta-feira, 3 de outubro de 2018

O futebol e seus caprichos

O futebol tem lá seus caprichos. E é bom que os tenha. Tivéssemos só o jogo jogado estaríamos perdidos. Houve um tempo em que um jornalista esportivo podia se gabar de ter um ofício de dar água na boca de muita gente. Tenho na memória um sem fim de ocasiões em que nós, do esporte, podíamos perceber na redação um certo olhar de inveja disparado pelos companheiros que tinham como missão falar dos fatos econômicos, de política ou de polícia.  O mundo pegando fogo e os folgados lá de caneta na mão e olhos na tela vendo um jogo nos monitores de televisão ou se preparando tranquilamente para se dirigir ao Morumbi ou ao Pacaembu para acompanhar um grande clássico. Mas é aquela coisa, como diz um dito popular, todo mundo vê as pingas que a gente toma, nunca os tombos que a gente leva. 

E se iniciei estas mal traçadas falando de caprichos foi por mirar no horizonte esse tão falado encontro entre São Paulo e Palmeiras,  amanhã. Uma rivalidade cheia de acontecimentos recentes, cujo próximo capítulo se vê adornado pela possibilidade de que represente também não só uma possível liderança, mas um passo fundamental para um triunfo nacional. E que o futebol tenha se incumbido de fazer o time comandado por Luiz Felipe Scolari  tomar a liderança tricolor justamente às vésperas do encontro dos dois só pode mesmo soar como capricho. Não tivesse todo torcedor uma fome insana, poderia aqui lembrar que para o são-paulino estar brigando pela ponta da tabela já deveria soar grandioso como uma vitória.  Como bem poderia o torcedor palmeirense se dar por satisfeito se visse o Palmeiras conquistar a Libertadores e o Brasileirão escapar. Mas a lógica que habita a mente de quem torce faz pouco caso da razão. De um lado e de outro as possibilidades de sarro diante do placar esperado são imensas. E isso é o que está por trás de toda as exigências de vitória. 

Mas, como ia dizendo, o tempo passou e as coisas mudaram. Hoje em dia ter de assistir um jogo por obrigação virou castigo. Como se não bastasse a escassez de talento há ainda um sem fim de  detalhes jogando contra. A arbitragem , por exemplo. Os homens do apito e seus comparsas parecem decididos a testar nossa paciência. Chego a pensar em motivos extremos como sabotagem e, em última instância, alucinação mesmo. Só isso explicaria. E essa fase brava ainda tem vindo acompanhada da pretensa modernidade do árbitro de vídeo. 

É de dar nos nervos ver o árbitro lá no meio, com cara de perdido, claramente incomodado com o equipamento de comunicação, dando a impressão de  estar dividido entre o que rola diante de seus olhos e da missa que andam lhe rezando no ouvido. O que semeia no ato de acompanhar a partida um  ar de dúvida e o incômodo de se saber que uma surpresa pode pintar a qualquer momento ditada por algo que só o pessoal que andou vasculhando o ocorrido em câmera lenta foi capaz de ver.  Daria tudo para ouvir essas conversas na íntegra. Não é à toa que negam. Mas há de chegar o dia em que teremos um futebol transparente. Por hora, temos de nos contentar com um caprichoso. O que diante de tudo que tem sido visto não é pouco, é verdade.

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