quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Os nossos guris

O Brasileirão tem neste momento mais que um artilheiro, tem um xodó. Pedro, o camisa nove do Fluminense, anda encantando todo mundo. E não é pra menos, tem dado gosto vê-lo em campo.  Mas a pergunta que me vem diante dessa constatação é como seria a maneira mais precisa de tratar alguém como ele. Não se trata de um dilema temporal, é uma questão de tratamento mesmo. Não sei se já notaram, temos uma tendência a nos referir sobre os talentosos descobertos, digamos, na flor da idade como meninos. Quando o peso de uma grande camisa muito provavelmente já os fez de algum modo maduros. E o interessante é que esse modo de trata-los costuma durar um bocado. 

O tempo vai passando, passando e o jogador em questão muitas vezes segue por anos sendo visto - e interpretado - como um jovem talento. Ora, que são todos jovens não resta dúvida. E, além do mais, para alguém na minha condição de nascido pouco depois do meio dos anos sessenta continuarão nessa condição mesmo quando estiverem à beira de pendurar as chuteiras.  Isso explica a razão pela qual não foram poucas as vezes em que percebi um espanto brotar no meio de certas conversas quando vinha à tona, por exemplo, a idade atual de Neymar.  Como assim vinte e seis anos?, disseram alguns. 

Dá pra compreender. Alguém que passa a fazer sucesso tão cedo e de modo quase sempre contundente tem a imagem fortemente fixada no imaginário do torcedor.  E até por desejo se quer que aquela  boa primeira impressão, aquela meninice, perdurem. E nisso somos privilegiados. Há décadas tem sido parte da nossa história ver meninos de dezessete anos fazendo chover com a bola nos pés. Está aí o Rodrygo, do Santos,  para servir de amparo à minha teoria. Tão precoce e ao mesmo tempo tão capaz de dar conta da responsabilidade de ser o que o time da Vila Belmiro tem tido de mais alvissareiro nesta temporada. Na idade dele, dezessete, não há margem pra dúvida, pode chamar de menino, não tem erro.

Já no caso de Pedro, com suas dezenas de jogos pelo time profissional do time das Laranjeiras e seus vinte e um anos, é possível enxerga-lo como um profissional quase pronto no que diz respeito às potencialidades.  Ser maduro é outra coisa. E se o tema aqui se impôs, serei sincero, foi também como pretexto para encher a bola dessa garotada que de algum modo tem salvado o futebol brasileiro da modorra. Rodrygo, Pedro e também o corintiano Pedrinho, que bem poderia - pelo futebol que tem - ser chamado de Pedrão, são provas cabais de que há sim como driblar a falta de beleza do jogo, como lhe dar outra vida. 

E o mais cruel de tudo nem é o fato de que os caminhos usados pelos mercadores do jogo de bola muitas vezes não tenham o talento no sentido mais puro como principal requisito, mais cruel é saber que tudo isso nos condena a ver esses meninos em breve fazendo não a nossa alegria, e sim a de torcedores do outro lado do Atlântico.  E na ausência desse jeito de tratar a bola, na ausência desse arroubo que só a meninada é capaz de provocar, normal que o futebol brasileiro carregue consigo um certo ar de ultrapassado, quase velho.  

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