quarta-feira, 6 de junho de 2018

Tratado geral sobre o palpite


Que atire a primeira pedra aquele que nunca cometeu o ato. Vá além, confesse que provocado você nunca resistiu. Pode até ter titubeado um pouco ao ser convidado. Mas diante da menor insistência se entregou. E, por favor, não pense em nada mais caliente. Estou falando da nossa mania de palpitar. Um dia alguém irá fazer um tratado sobre o assunto. Um dia o palpiteiro será virado ao avesso como já fizeram com aqueles que se ocupam com a vida os outros. Isso mesmo, não tardará o dia em que esse nosso hábito será dissecado. Algo na linha do que fez  o psiquiatra, José Ângelo Gaiarsa, quarenta anos atrás,  ao escrever um livro que trazia uma análise sociológica, filosófica, histórica e psicológica sobre a fofoca, intitulado de "Tratado geral sobre a Fofoca". 

E terá sido por merecimento porque se há uma face desafiadora no futebol é essa que nos dá a ilusão de achar que é possível saber de antemão o que o jogo de bola nos reserva. Peço desculpas aos de memória privilegiada, estou ciente de que o tema já andou por aqui. Mas é que quanto mais reflito, mais essa questão dos palpites  parece se aprofundar. Minhas últimas reflexões a respeito me levaram a considerar, por exemplo, que pode haver uma maneira de tirar algum proveito de todas as bolas fora que esse tipo de pratica costuma produzir. Vejam. Dias atrás fui convidado a dizer como terminaria o placar do clássico entre Palmeiras e São Paulo. Junto comigo, um campeão do mundo, e dois jornalistas rodados, mas rodados mesmo. Daqueles pra quem o futebol teoricamente não teria muitos segredos. 

Eis que nenhum dos palpiteiros foi capaz de apontar sequer o Palmeiras como vencedor. E nem estou falando de cravar o placar, porque aí seria demais. O Palmeiras jogava em casa, tem um time respeitável, por mais que a torcida ande lhe pegando no pé e, além de tudo, jamais tinha perdido para o tricolor no estádio onde o confronto se daria.  Mas abraçamos fervorosamente a negação. Por essas e outras começo a achar que dever existir uma lógica escondida por trás dessa imprecisão que desde sempre andamos proferindo  sobre o resultado de certas partidas. Sempre defendi que o que mata os profissionais que se colocam nessa situação é lidar muito com o racional, esquecendo de outros fatores. 

Mas a última bola fora me deixou com uma ponta de desconfiança de que profissionais do ramo, ou não, somos todos muito impressionáveis quando o assunto é futebol. Só uma forte impressão justificaria a aposta em bloco num São Paulo que, afinal, se encontra visivelmente em estágio muito menos avançado do que o adversário alviverde. Querer trabalhar com a razão seria a pior tática? Os intuitivos levam alguma vantagem nisso? Os ardorosos estão fadados a não ver o óbvio? Torço pra que não tarde o dia em que um teórico venha a esmiuçar o assunto. Mas não vamos deixar passar a oportunidade, né?  Diga,, por favor, como vai ficar o Corinthians e Santos de hoje à noite. E o clássico entre o poderoso Grêmio e o Palmeiras. Arrisca um palpite?

4 comentários:

Adilson Delaim disse...

Se tivesse um familiar no programa, duvido que não palpitaria no nosso PARMERA.
Mais que um palpite, uma visão, uma premonissão:
Gambás 0 x 1 Sardinhas
Ih_mortal 0 x 2 PORCO.

Vladir Lemos, jornalista disse...


A ver ! Abs

Reinaldo disse...

Olá Vladir, tudo bom contigo?

Mais uma vez venho trazer considerações sobre nosso futebol, que talvez lhe sejam interessantes, quem sabe... Como sabes ou se sabes sou palmeirense e depois desse empate consegui tirar algumas conclusões, colocando em paralelo o jogo do Atl. Mineiro versus o Fluminence chego a conclusão que aqui muitos times jogam o "Vira-lata Ball".

Lembras daquele complexo de inferioridade do Nelson Rodrigues? Aqui é aplicado num complexo de "o mínimo basta", aqui os times têm um desinteresse em jogar o jogo todo(intesindade), onde uma equipe indubitavelmente melhor joga por um breve período de tempo durante o jogo ou por breves minutos e faz um placar mínimo para literalmente sentar e administrar o jogo, tipo:

-O jogo acabou!

Aplicando isso a um contexto como o jogo entre Ceará versus Palmeiras ilustra bem isso, o jogo estava bom até sair o primeiro gol, quando então veio "o complexo do mínimo basta", e o Palmeiras claramente deixou de jogar após o segundo gol, ai então, literalmente acabou o "trabalhou". O ato de parar de jogar após um valor mínimo de placar é ridículo, só faz chamar teu adversário como hoje, e após a reversão do placar eles do nada decidem voltarem ao jogo, irracional.

Já o Ceará jogou todo jogo! Pior tecnicamente, jogou o jogo todo correndo atrás do placar e manteve a intensidade mesmo com a pouca técnica, com muito vigor físico se manteve no jogo marcando forte e contando com a falta de vontade de jogar do adversário. Falta isso aos times de melhor qualidade, na maioria dos casos jogam por pouco tempo dentro do jogo, na sua maioria fazem um ou dois gols e então literalmente "acabou". Já citando o jogo do Atl. Mineiro, ele jogou durante os 90 minutos, o time se manteve jogando no mesmo nível e foi construído placar... Também tivemos outros como: Grêmio 2 x 0 Palmeiras, Grêmio 1 x 5 Santos e mais alguns que não me lembro, então isso prova que é possível jogar os 90 minutos como intensidade, mais ai alguns virão com a desculpa de calendário, então por que muitos times têm mais de 30 jogadores no elenco? Dá para você fazer um time para jogar num espaço de uma semana, tipo um time com uma escalação joga numa Quarta-feira e o mesmo joga na outra Quarta... Na prática são dois times mais 8 jogadores.

Reinaldo disse...

Você com certeza assistiu ao jogo da seleção, ela jogou durante os 90 minutos e fez três, mas poderia ter feito quatro ou cinco... Na Europa, nos grandes centros é comum os times jogarem a fazerem placares largos, não se trata de uma humilhação ao adversário ou da presunção de superioridade, já que no futebol não há como cravar um vencedor antecipadamente mas, o ato mal educado desportivamente na minha opinião e despeitoso com quem paga o ingresso e vai aos jogos saber que acabou o futebol após a construção de uma vantagem... O mínimo que se espera é manter um nível de intensidade os 90 minutos independente do placar, até entendo o ato de administrar, mas desde que com um motivo válido, como uma equipe muito inferior tecnicamente estar ganhando, ou determinado time com uma inferioridade numérica manter um placar, no mais é inadmissível. Dado o nível de investimento do nosso futebol, com times grandes pagando salários altos e com 30 jogadores em média, acho que cobrar intensidade, isto é, jogar os 90 minutos no mesmo nível para fazer mais gols é algo imperativo.

Senão torna a linha que separa um Palmeiras, um Santos, um Flamengo, um Corinthians e afins a nível de qualidade técnica completamente iguais ao Ceará, ao Sport, ao Bahia... E pensando assim estes últimos seriam muito mais inteligentes por teriam jogadores de mesmo nível pagando muito mais menos.