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Bar São Cristovão -Vila Madalena /SP |
Outro dia escutei de um interlocutor uma teoria
interessante. Travávamos um papo de contorno comum, que transitava entre o
desgosto com as coisas de Brasília e o descontentamento com o futebol quando
o sujeito me confidenciou que andava desconfiado de ter compreendido a razão de
nos últimos tempos o brasileiro ter se entregado com tamanho fervor ao debate
político. Fiz de conta que tinha acabado de ouvir algo trivial. Não dei pinta,
não demonstrei espanto. Empolgado com a teoria que trazia consigo o homem tratou
de ir revelando o que sustentava a descoberta. O que só fez meu interesse
aumentar. Nada de muito complexo. O raciocínio era simples.
Segundo ele a culpa era do futebol. O que temos visto se desenhar entre as quatro linhas está longe
de dar caldo. Foi-se o tempo em que o futebol tinha apelo suficiente pra
alimentar conversas substanciosas. Como se não bastasse isso, ao mesmo tempo em
que o futebol esfriou a política esquentou. Segundo o teórico que cruzou meu
caminho basta um pouco de sensibilidade pra notar que atualmente ouve-se mais
gente falando de política nas mesas de bar do que gente disposta a defender o
time que escolheu como seu. Confesso, por um instante até me alegrei pois vi ali
escondida uma boa notícia: o brasileiro anda mais interessado em política do que
nunca.
Mas fui levado a crer que a razão é outra, questão de instinto. Esse
instinto que não nos permite
ignorar o que nos ameaça. E diante da linha bem marcada que o técnico Tite
trilhou desde que assumiu a seleção nem a recém divulgada lista de convocados
terá conseguido mudar a realidade, até porque em termos de dar o que falar a
política brasileira anda imbatível. E se o futebol brasileiro não anda gozando
de muito prestígio tampouco a Copa do Mundo. Não sei se viram. Uma pesquisa
divulgada dias trás mostrou que o desinteresse do brasileiro pela Copa aumentou
consideravelmente.
Em menos de dez anos a porcentagem de brasileiros que não
querem nem saber do Mundial saltou de dezoito para quarenta e dois por
cento. Ter visto uma Copa pelas entranhas, bem de perto, parece ter nos
provocado um bode danado. Mas popular, ou não, a Copa está aí. Gosto, acima de
tudo, da legitimidade que cerca a figura de Tite. Afinal, somos um país prodigo
em consagrar ilegítimos. E quem sabe o time do Seo Adenor não consiga fazer o
que nosso futebol por ora não tem conseguido: reconquistar o espaço perdido nos
papos travados nas mesas de bar.
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