quarta-feira, 16 de maio de 2018

Perdendo nas mesas de bar

Bar São Cristovão -Vila Madalena /SP


Outro dia escutei de um interlocutor uma teoria interessante. Travávamos um papo de contorno comum, que transitava entre o desgosto com as coisas de Brasília e o descontentamento com o futebol quando o sujeito me confidenciou que andava desconfiado de ter compreendido a razão de nos últimos tempos o brasileiro ter se entregado com tamanho fervor ao debate político. Fiz de conta que tinha acabado de ouvir algo trivial. Não dei pinta, não demonstrei espanto. Empolgado com a teoria que trazia consigo o homem tratou de ir revelando o que sustentava a descoberta. O que só fez meu interesse aumentar. Nada de muito complexo. O raciocínio era simples. 

Segundo ele a culpa era do futebol. O que temos visto se desenhar entre as quatro linhas está longe de dar caldo.  Foi-se o tempo em que o futebol tinha apelo suficiente pra alimentar conversas substanciosas. Como se não bastasse isso, ao mesmo tempo em que o futebol esfriou a política esquentou. Segundo o teórico que cruzou meu caminho basta um pouco de sensibilidade pra notar que atualmente ouve-se mais gente falando de política nas mesas de bar do que gente disposta a defender o time que escolheu como seu. Confesso, por um instante até me alegrei pois vi ali escondida uma boa notícia: o brasileiro anda mais interessado em política do que nunca. 

Mas fui levado a crer que a razão é outra, questão de instinto. Esse instinto que não nos permite ignorar o que nos ameaça. E diante da linha bem marcada que o técnico Tite trilhou desde que assumiu a seleção nem a recém divulgada lista de convocados terá conseguido mudar a realidade, até porque em termos de dar o que falar a política brasileira anda imbatível. E se o futebol brasileiro não anda gozando de muito prestígio tampouco a Copa do Mundo. Não sei se viram. Uma pesquisa divulgada dias trás mostrou que o desinteresse do brasileiro pela Copa aumentou consideravelmente. 

Em menos de dez anos a porcentagem de brasileiros que não querem nem saber do Mundial saltou de dezoito para quarenta e dois por cento. Ter visto uma Copa pelas entranhas, bem de perto, parece ter nos provocado um bode danado. Mas popular, ou não, a Copa está aí. Gosto, acima de tudo, da legitimidade que cerca a figura de Tite. Afinal, somos um país prodigo em consagrar ilegítimos. E quem sabe o time do Seo Adenor não consiga fazer o que nosso futebol por ora não tem conseguido: reconquistar o espaço perdido nos papos travados nas mesas de bar.

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