quarta-feira, 23 de maio de 2018

O fator Carille


Faz exatamente uma semana. Você irá se lembrar. A notícia do dia era a proposta milionária que um time da Arábia Saudita faria chegar ao técnico do Corinthians. Fábio Carille estava na Venezuela com o time pra enfrentar o Deportivo Lara. Desfrutava da condição de líder do grupo mas a diferença de apenas um ponto pro segundo colocado dava margem a certas preocupações. Ainda assim falou sobre o assunto, coisa que quem cobre o futebol sabe que a maior parte não faria. E foi claro. Disse que as pessoas que cuidam da carreira dele ainda não tinham lhe passado nada e o que ele sabia é o que a imprensa tinha noticiado por aqui.  Afirmou que estava com a cabeça no jogo e como havia na sequência uma partida pelo Brasileiro muito provavelmente teria algo dizer sobre o tema na segunda-feira. Mas a paciência dele se esgotou antes disso. 


Na coletiva depois do empate com o Sport, com a situação em aberto, disse que grande parte da imprensa mente demais. Se a proposta não tinha chegado como é que já se falava no valor do salário, no valor das luvas, e no tamanho que teria o contrato?  O desencadear dos acontecimentos merece reflexão. Até aí, apesar de toda a grita, não existia mesmo uma proposta oficial. Ela só chegou na última terça e emitida pelo Al-Wehda que nem era o time apontado no início da novela. Se não havia proposta, de onde saíram os números que andaram sendo ditos lá no primeiro dia? As criticas de Fábio Carille à imprensa foram duramente rebatidas. Ele pode ter dito o que disse de modo inapropriado. Mas parece evidente, não a mentira, mas uma certa falta de precisão. E essa parece uma questão muito pertinente diante do ocorrido. 



Não bastasse o trabalho irrepreensível à frente do time corintiano é notório que Carille construiu pra si a imagem de um profissional respeitoso e hábil para lidar com pessoas.  O que dá a esse ruído todo com a imprensa algo de intrigante. Semanas atrás quando encerrava a conversa com ele no programa Cartão Verde fiquei surpreso com a resposta que ele deu ao ser perguntado sobre qual aspecto deveria se aprimorar profissionalmente. Foi enfático. A seguir as palavras ditas por ele: algo que eu tenho que melhorar rapidamente é esse entendimento meu com a imprensa. Não tá fácil, mas tô tentando entender, tô tentando aprender. O que mais me incomoda é o que inventam. E inventam demais, isso é chato. Você tem que ficar respondendo por algo que você não falou, não discutiu em momento algum. 



Depois de tudo que Carille fez e vinha fazendo pelo Corinthians, ver o presidente do clube se mostrar quase indiferente à saída dele beirou o desrespeito. Culpá-lo por algo dito pelo pai dele algo pouco apropriado. Que um time de jornalistas seja mais difícil de domar que um time de futebol não me espanta. Como não me espanta que a imprensa com sua imprecisão tenha de certo modo abreviado a permanência dele no Corinthians. Carille é uma das raras boas surpresas que o futebol brasileiro nos deu nos últimos tempos. Tanto se fala sobre o papel do treinador. Acho que a partida dele pra Arábia é um bom momento pra se refletir sobre a imprensa e sobre o tratamento e a importância que o mundo da bola dá realmente aos treinadores.

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