Não tenho um diagnóstico. Caso tivesse um
solidamente embasado poderia me considerar um iluminado. Não é o caso. Futebol é
terreno que costuma ter a densidade da areia movediça para certas
conclusões. Qualidade que de tão impiedosa desconfio anda tragando, inclusive, o
que tem brotado com ares de ciência exata do mundo tecnológico e científico que
ganha cada vez mais espaço e atenção daqueles que tem a missão de estudar
o futebol. A única certeza que carrego comigo é que as peladas travadas por aqui
com carimbo profissional andam pálidas. A graça do jogo de bola míngua a olhos
vistos.
O que pode ser comprovado empiricamente. Basta pra isso provocar o
assunto no meio de um bate papo qualquer com os amigos. Os lamentos nesse
sentido não tardarão. Façam o experimento. Pra diminuir a margem de erro e
calibrar o resultado da pesquisa procure torcedores cujos times andam um tanto à
margem de conquistas de alguma expressão. Não é por nada. É que torcedores que
flertam com grandes conquistas tendem a misturar um pouco a emoção de um grande
triunfo com a emoção do jogo. Não os culpo. Diante dessa nossa realidade pobre
garantir o direito de tirar um sarro com os rivais jamais será pouco.
Outro dia
recebi de um leitor interessado uma teoria que procurava elucidar de onde tem
vindo tamanha modorra. Gostei do que li. Em linhas gerais a teoria descrita
sugere é que temos uma deficiência absurda na execução do passe. O velho
problema dos fundamentos, que realmente parece fazer cada vez mais sentido.
Segundo o autor da reflexão, Reinaldo Neto, outra questão é que nossos jogadores
estão longe de entender a necessidade da plena movimentação em campo. Sem bons
fundamentos e limitados pelas poucas opções de fazer o jogo andar, já que
os companheiros se movimentam menos do que o ideal, acabam ficando com a bola
quase que o dobro do tempo de um time de ponta europeu. Tudo isso torna o
trabalho das defesas infinitamente mais fácil, pois passam a ter um tempo
considerável pra se reposicionar. O que não explica tudo.
Mas acho interessante
quando alguém se debruça sobre o que vê tentando entender o que se passa. Não me
entendam mal, não sou um pessimista sou um jornalista tentando interpretar o que
vejo. Seria muito bom entre uma conversa e outra dar de cara pelo caminho com
alguém que afirmasse que hoje em dia gosta mais de futebol do que gostava
antigamente. De minha parte, vos digo, isso me deixaria muito surpreso. Enquanto
não encontro esse sujeito, concluo que a ausência dele é a grande prova da minha
humilde teoria: o futebol brasileiro precisa urgentemente de uma dose de
graça.
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