quarta-feira, 18 de abril de 2018

Qual é a graça?

Não tenho um diagnóstico. Caso tivesse um solidamente embasado poderia me considerar um iluminado. Não é o caso. Futebol é terreno que costuma ter a densidade da areia movediça para certas conclusões. Qualidade que de tão impiedosa desconfio anda tragando, inclusive, o que tem brotado com ares de ciência exata do mundo tecnológico e científico que ganha cada vez mais espaço e atenção daqueles que tem a missão de estudar o futebol. A única certeza que carrego comigo é que as peladas travadas por aqui com carimbo profissional andam pálidas. A graça do jogo de bola míngua a olhos vistos.  

O que pode ser comprovado empiricamente. Basta pra isso provocar o assunto no meio de um bate papo qualquer com os amigos. Os lamentos nesse sentido não tardarão. Façam o experimento. Pra diminuir a margem de erro e calibrar o resultado da pesquisa procure torcedores cujos times andam um tanto à margem de conquistas de alguma expressão. Não é por nada. É que torcedores que flertam com grandes conquistas tendem a misturar um pouco a emoção de um grande triunfo com a emoção do jogo. Não os culpo. Diante dessa nossa realidade pobre garantir o direito de tirar um sarro com os rivais jamais será pouco. 

Outro dia recebi de um leitor interessado uma teoria que procurava elucidar de onde tem vindo tamanha modorra. Gostei do que li. Em linhas gerais a teoria descrita sugere é que temos uma deficiência absurda na execução do passe. O velho problema dos fundamentos, que realmente parece fazer cada vez mais sentido. Segundo o autor da reflexão, Reinaldo Neto, outra questão é que nossos jogadores estão longe de entender a necessidade da plena movimentação em campo. Sem bons fundamentos e limitados pelas poucas opções de fazer o jogo andar, já que os companheiros se movimentam menos do que o ideal, acabam ficando com a bola quase que o dobro do tempo de um time de ponta europeu. Tudo isso torna o trabalho das defesas infinitamente mais fácil, pois passam a ter um tempo considerável pra se reposicionar. O que não explica tudo. 

Mas acho interessante quando alguém se debruça sobre o que vê tentando entender o que se passa. Não me entendam mal, não sou um pessimista sou um jornalista tentando interpretar o que vejo. Seria muito bom entre uma conversa e outra dar de cara pelo caminho com alguém que afirmasse que hoje em dia gosta mais de futebol do que gostava antigamente. De minha parte, vos digo, isso me deixaria muito surpreso. Enquanto não encontro esse sujeito, concluo que a ausência dele é a grande prova da minha humilde teoria: o futebol brasileiro precisa urgentemente de uma dose de graça.    

Nenhum comentário: