quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Não tá fácil pra ninguém?

A Olimpíada do Rio pode ser vista como o ponto final da saga brasileira nos grandes eventos esportivos. Passamos praticamente uma década na condição de anfitriões. A situação faz com que eu me sinta um pouco como aquele tipo de pessoa que, mesmo tendo poucos caraminguás no bolso, se vê na obrigação de receber em casa algum nobre. Situação em que a única saída possível pra não fazer feio é gastar o que não tem. Juntos, o Pan de 2007, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos do Rio devem consumir quase 70 bilhões de reais. A mídia, de modo geral,  não deixou de fornecer detalhes suficientes para que os interessados pudessem fazer juízo da valia de tudo isso. Os positivistas dirão que quando tudo foi decidido não estávamos nessa encruzilhada social e econômica de agora. 

Ocorre que as alianças feitas a partir desses acordos continuam com o mesmo poder de fogo do início, o que vem a ser ainda mais cruel. Aos interessados sugiro que verifiquem quanto custou - e está custando - aos nossos governos os estádios erguidos para a Copa. Sugiro que tomem ciência de tudo que foi construído para o Pan - sob o argumento de que serviriam para as Olimpíadas - e deixado de lado. E se falo que as alianças continuam intactas é porque os fatos provam isso. 

Dias atrás o Governo Federal e o Governo do Rio resolveram uma das maiores pendências olímpicas, a questão energética. Compra de geradores e tal. Os dois aceitaram pagar a conta. Coisa de 460 milhões de reais, quase meio bilhão. Pouco depois foi a vez do governo do Distrito Federal dar sua contribuição. Para fazer do estádio Mané Garrincha uma das sedes do futebol olímpico, os deputados da Câmara Legislativa abraçaram uma conta que, segundo a secretária-adjunta de Esporte do Distrito Federal, ficará em 25 milhões. Mas a verdade é que a proposta foi encaminhada sem previsão orçamentária, o que vocês sabem bem o que significa. 

Perto de 460 milhões, 25 milhões soam como quase nada. Mas se levarmos em conta que o Distrito Federal tem vivido um caos, com a saúde pública, a educação, a limpeza urbana e outros serviços comprometidos, tudo muda de figura. Mais um exemplo de que políticos não estão nem aí pra realidade do país. Se ignoram que o Comitê Internacional lucrou no último ciclo olímpico 5 bilhões de dólares, ou quase 20 bilhões de reais, deveriam ter vergonha. Se sabem, deveriam ter mais vergonha ainda. Mas ninguém parece disposto a dizer para os donos do circo que a situação não nos permite gastar mais um tostão. Ou seja, esse papo de que não tá fácil pra ninguém continua valendo só pra nós, que vamos ao circo pra ver o espetáculo, ou para fazer matérias jornalísticas.

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