quarta-feira, 17 de junho de 2015

Que papo é esse ?


Não sei se você é careca, cabeludo, calvo ou daquele tipo seguro pacas que está longe de se preocupar com sua condição capilar. Quando se trata de cabelo só não engulo aquela frase sem conexão nenhuma com a realidade, lembrada insistentemente, que defende a teoria de que é dos carecas que elas gostam mais. Como já disse, respeito mesmo é os que estão em paz com a situação, seja ela plasticamente ideal ou não. E me perdoem desde já esse nariz de cera meio nonsense. Mas sou capaz de explicar. 

Tudo começou no dia em que saquei que meu shampoo tinha acabado. Sem pestanejar pensei comigo que era só apelar para os da minha mulher. Estavam todos ali à mão, na prateleira de vidro no box. Eram quatro ou cinco frascos à minha inteira disposição, sem contar os condicionadores etc e tal. Inocentemente pensei estar diante de uma tarefa fácil. Triste engano. O primeiro escolhido avisava em seu corpinho de design arrojado que deveria servir a cabelos quimicamente tratados. Breve infelicidade, matutei. Fui ao segundo. Um tubo de cor roxa, modernoso. E lá estava: shampoo para cabelos alisados. Também não era o meu caso. Que sina! O jeito era escolher logo um dos outros e, sem ler o rótulo, despejar um bocadinho dele na palma da mão e espalhar no alto da cachola quase instintivamente. A essa altura tinha perdido a coragem.

E perdi mais ainda ao ler que o terceiro prometia cabelos lisos como nunca. Bateu um medão de sair do banho com ar japonês. Decidi usar o sabonete mesmo. Mas não sem matar a curiosidade do que prometiam os que não tinham sido vasculhados. Um era um tal de quatro em um. Como eu só conhecia shampoo e, muito vagamente, condicionador...morri de curiosidade pensando quais seriam os benefícios propiciados pelos outros dois produtos. Isso sem falar que um dos tubos estampava no rótulo algo meio messiânico do tipo: 3 minutes miracle. Uau! A coisa poderia ter acabado ali. Mas aquele desafio para encontrar um produto que me servisse acabou sendo um ponto de partida. Pois, a partir daquele dia, passei a prestar muita atenção às promessas estampadas nos rótulos. Meu chapa, é cada uma que só vendo. 

Faço questão de listar algumas. Shampoo de verdade, daqueles puros shampoos, nem mais os das crianças. Até mesmo nesses não há mais simplicidade. Foi-se o tempo em que eles, mais inocentes, garantiam no máximo um banho sem choro ou lágrimas. A coisa agora nos tais vai de brilho total até ingredientes que ajudam o bebê a dormir. Seria algum tipo de shampoo tranquilizante? Bom, e assim, entre a graça e a indignação com essa espécie de sofismo mercadológico maluco - e nem sempre bem intencionado - as descobertas vão se sucedendo. Já vi por aí, óleo essencial exótico! E há uma empresa de ar natureba que coloca em cada uma das suas embalagens uma frasezinha. Estratégia que imagino ter sido bolada para captar e transmitir ao consumidor um pouco da leveza das palavras bem escolhidas. 

Vejam essas. Num creme hidratante: Sinta na pele todo o calor que o inverno pode ter. Ora, não seria o verão? E essa outra: silvestres sabores sensações despertadas. Magnífico, né? Olha, isso tudo pode ter nascido com a melhor das intenções mas só me dá uma sensação estranha. É como se eu não tivesse sensibilidade ou conhecimento suficientes. São insinuações que muitas vezes desafiam a minha compreensão. Talvez eu esteja precisando como também já vi escrito por aí " todo dia despertar e acordar para o novo". Ou talvez, eu esteja precisando apenas de uma "restauração profunda". Seja como for, alguém aí pode me explicar o que vem a ser exatamente um óleo essencial?  

* O texto acima está na revista "Soci@al magazine", criada pelo jornalista Carlos Sartori, o Pé de Milho.
   É de graça, virtual e reúne artigos escritos por vários jornalistas.

www.scmagazine.com.br

Nenhum comentário: