sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Caprichos do futebol

Eu sei que esta semana que está chegando ao fim foi do Ronaldo, cuja aposentadoria anunciada nos fez enxergar melhor a dimensão do Fenômeno. O sorriso do menino criado em Bento Ribeiro permanecerá incrustado no imaginário dos amantes da bola pra sempre. Mas o futebol é caprichoso e eu gosto de me render aos seus caprichos.

Falo do Sul-Americano sub-20 e sua garotada. No dia em que o Uruguai derrotou a Argentina por um a zero e garantiu a classificação para os Jogos de Londres a delicadeza da história aflorou. Os uruguaios garantiram ali a volta deles a uma Olimpíada depois de mais de oitenta anos. Isso muita gente se apressou em dizer. Os detalhes, no entanto, ficaram de fora, e é neles que reside a beleza desse momento.

Quando o futebol amadureceu no início do século passado os uruguaios, elegantemente, tiveram papel de destaque. Não sediaram a primeira Copa do Mundo por acaso. Eram na época bi-campeões olímpicos, donos de um futebol veloz e de um domínio de bola que impressionava até os ingleses. E foi justamente contra a Argentina nos Jogos de Amsterdã, em 1928, que eles conquistaram o ouro olímpico pela última vez.

Quatro anos antes, em Paris, já tinham enfrentado estádios lotados, com mais de sessenta mil pessoas, e só foram levar um gol na semifinal, quando venceram a Holanda, time da casa, por dois a um. Seria o primeiro e o único gol sofrido porque na final iriam garantir o ouro com uma vitória por três a zero sobre a Suiça.

A gente sabe que esse negócio de medalha de ouro é complicado. Só pode ser essa a explicação para o fato do nosso futebol não ter nos levado até hoje ao lugar mais alto do pódio olímpico. E olha que não foi por falta de craques. Vocês devem lembrar que recentemente Diego e Robinho também naufragaram nesse mar de tentativas.

Bom, a história segue caprichosa como sempre. Nossos garotos de agora podem ter cometido mais erros do que acertos diante da Argentina. Ouvi, de gente muito rodada, que a nossa seleção tinha deixado escapar a chance da vaga ali. Nada disso. A história nos reservou um final de arrepiar.

Não é sempre que se chega a um título entre seleções nacionais na última rodada, e condenando um adversário com a tradição do Uruguai a uma impiedosa goleada por seis a zero. O acontecido me fez pensar que nosso futebol é menos preciso quando amadurece. Acho que se distrai com a fama, perde aquela indispensável fome de bola.

Quem sabe chegará o dia em que teremos os mesmos olhos para o andar de baixo, pra garotada. Ainda não temos. Fosse essa façanha obra da seleção principal o oba-oba seria o de sempre, de torrar a paciência.

Naquele meio de semana que ficou pra trás, quando o prazer pequeno burguês da TV a cabo me permitiu escolher entre vários jogos. Corinthians e Ituano, pelo Paulista, Fluminenese e Argentinos Juniors, pela Libertadores e Argentina e Uruguai pelo Sul-Americano sub-20, todos no mesmo horário, não tive dúvidas, só me entreguei pra valer ao jogo da meninada. E afirmo - com a determinação de quem entra em uma dividida - que não me arrependi.

Vejam, a história tem sido tão rebuscada que mesmo tendo nos dado tanto em matéria de bola ainda não nos permite dizer que ganhamos tudo. Olho ainda neste instante, uma foto da garotada feliz, de taça na mão, na euforia da consagração, e me pergunto: Será essa a geração que nos levará a essa conquista que jamais experimentamos? Tramo um ponto final para este artigo rendido aos caprichos da história, que nos trouxeram Ronaldo, essa nova geração talentosa e que, por certo, nos trarão muito mais.

Nenhum comentário: