quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Um treinador raro

 


O time do Botafogo vem jogando muito. E falar de jogadores como Luiz Henrique e Igor Jesus seria chover no molhado. Ainda que tenha a impressão de que soando tão maduros em campo a juventude dos dois passe despercebida. Os dois têm vinte três anos. São garotos. Júnior Santos, que está voltando, trem trinta. Mas eu gostaria de falar é sobre o treinador do time da estrela solitária. Sob a ótica do tempo e do futebol Artur Jorge desembarcou outro dia por aqui. Mais precisamente em abril. Houve um momento em que até andou falado, mas em linhas gerais não tem provocado grandes análises sobre sua figura. Não virou estrela. O que não é comum. Os técnicos, faz tempo, estão sempre em evidência. E isso se deve, na minha opinião a um comportamento moderado. 

Acho louvável essa discrição. Pode ser, inclusive, o que explica parte do sucesso dele. Estar na liderança de um campeonato como o Brasileiro e na final da Libertadores é pra poucos e  tão representativo que faz ter um quê de chover no molhado também a frase inicial dessa minha reflexão. Mas vou lhes dizer porque a mantive: porque estou convencido disso, mas não de que isso faça do Botafogo favorito a ficar com o mais desejado título do futebol do nosso continente. Vejo no Atlético Mineiro, como bem definiu um companheiro de profissão, um time cascudo. E essa é uma qualidade que não se deve desprezar em decisões do tipo que irão enfrentar. 

Mas voltando a Artur Jorge, ele chegou aqui, como outro portugueses, sem que seu currículo ostentasse conquistas dessas que costumam render por muito tempo, mesmo que seu dono nunca volte a viver glórias parecidas. Artur foi um beque central desses que se ligam a um clube de maneira singular. Dá pra dizer que passou toda a carreira de jogador defendendo o Braga. E sempre me intrigou esse caminho desenhado pelos portugueses no futebol brasileiro nos últimos anos. Não consigo crer que não houve algo de supersticioso nas contratações que se seguiram à de Jorge Jesus e sua triunfante passagem pela terra onde cantam os sabiás. Cada vez mais cercados de prédios, infelizmente. Tanto é assim que, vira e mexe, alguém diz que Jesus irá voltar.  

Pelo que lembro agora, Artur Jorge só pisou na bola quando depois de classificar o Botafogo para as semifinais da Libertadores ralhou com um repórter que havia questionado um de seus comandados sobre o fato de o time ter deixado escapar o título brasileiro na temporada passada. Foi tão mal que impediu o jogador de responder a questão. E se lembro o episódio é porque mesmo com toda a minha admiração pela figura e trabalho imaginava que as próximas semanas poderiam colocar a polidez de Artur Jorge à prova, não na Libertadores, que será decidida em jogo único e na qual um insucesso fará parte do jogo, mas no Brasileirão a história poderia ser outra. Um revés desses com viés surreal despertaria questionamentos indigestos. Que seriam injustos, mas também inevitáveis. 

Agora, depois da derrocada do Palmeiras na arena corintiana e a vitória incontestável do Bota no clássico contra o Vasco tudo se abrandou demais. Ainda que o caminho lhe reserve um confronto com o Palmeiras seu principal perseguidor, quatro dias antes da decisão continental. De qualquer forma, o Botafogo pode se tornar um vencedor desses raro e Artur Jorge tem tudo pra fazer ele chegar lá com uma discrição também rara entre os treinadores. Não que o clube esteja sem alguém que semeie declarações contestáveis na crônica esportiva. O manda-chuva, John textor, tem se encarregado desse papel com afinco.

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