Foto: Ricardo Duarte/Inter Divulgação
Há coisas que vão aos poucos transformando o futebol brasileiro e que na minha modesta opinião passam ao largo do debate esportivo. Uma delas é essa invasão de treinadores e mais ainda, pelo volume, a de jogadores estrangeiros. Não tenho dúvida de que isso irá mudar radicalmente a cara do futebol brasileiro. Vai nisso eu sei um traço de romantismo porque essa coisa do jeito de jogar remete a um tempo em que ninguém ousava contestar que tínhamos evidentemente um jeito só nosso de fazer a coisa. E sei que é preciso admitir que essa transformação já se dava bem antes dessa liberação no número de estrangeiros que podem ser utilizados por partida. Mas há uma distinção aí, uma ruptura muito visível que as mudanças recentes decretam.
Ao longo das últimas décadas essa mudança vinha se dando em outra instância, na maneira de pensar o jogo. Fomos aceitando teorias e as implementando a nosso modo, mas os executores ainda eram majoritariamente formados nos nossos campos. Importante destacar aqui que não estou dizendo que isso irá piorar o futebol brasileiro. Tudo nos leva a crer que muito pelo contrário. Mesmo porque as alterações permitem que nossos clubes tirem proveito, como nunca, da supremacia econômica de que desfrutam em nosso continente. A questão que me provoca é: no que resultará essa transformação? Passaremos a ter um futebol mais físico, mais no estilo argentino, já que boa parte dos que chegam vêm de lá? Não tenho respostas. Mas negar que isso tudo não terá efeitos colaterais é o que considero difícil de aceitar.
E sou levado a crer que o torcedor em geral nem tenha conseguido acompanhar o ritmo do que anda se passando e venha a ficar surpreso ao ler nestas linhas agora que neste momento os times brasileiros podem ter até nove estrangeiros por partida. Nove. Não se espante. Até dois mil e treze eram permitidos apenas três estrangeiros por partida. No ano seguinte, exatamente uma década atrás, passaram as ser cinco. Essa limitação vigorou até o ano passado quando os clubes da Série A aprovaram por unanimidade o aumento de cinco para sete estrangeiros relacionados por partida. Mas em março deste ano veio nova mudança e de sete passamos aos atuais nove estrangeiros permitidos. E novamente com o mudança aprovada por unanimidade.
Outro detalhe que considero pouco analisado é como as alterações no calendário da Conmebol acabaram por alterar substancialmente o modo como nossos principais clubes encaram o Brasileirão. Como todos sabem desde 2017 os torneios continentais foram esticados e passaram a tomar também o segundo semestre com suas finais sendo disputadas no final da temporada. O resultado disso foi que os altos prêmios e o apelo dos jogos eliminatórios criaram veladamente para o principal torneio do nosso país uma concorrência que ele não tinha. Não da forma que aí está ao menos. Por mais que antes dessas mudanças tenhamos visto campeões da Libertadores acusados de abrir mão do Brasileirão atualmente a história é outra. Naqueles tempos a escolha se resumia , em geral, ao campeão da América que passava logo a pensar em conquistar o mundo. Já nos dias de hoje, diante dos altos prêmios e do caminho mais curto pra alguns, passou a ser uma escolha de muitos. E que o torcedor aceita seduzido pela emoção dos jogos eliminatórios que sempre fizeram as Copas ter tanto apelo.
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