quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Esporte e educação



Li certa vez não sei bem onde que a formação ideal para o homem seria a seguinte: aprender a ler e a interpretar, uma dose de música e uma de ginástica. Creio que a fórmula era atribuída a Platão. E se tomo a liberdade de escrever isso sem estar certo dos créditos é porque, seja como for, no final importa é o que essa fórmula pode encerrar.  Há, por vários motivos, uma distorção na maneira de encarar e tratar o esporte. Ele não é algo que se justifique por si mesmo. Na minha visão deveria ser visto, acima de tudo, como um pilar para a educação e a saúde. Basta  uma mínima pesquisa para se ter uma noção melhor do que a prática esportiva pode fazer em termos de comportamento, de convivência. Ou o que pode fazer por nossa saúde.  E nesse aspecto estamos a anos luz de ser um país que leva isso minimamente a sério. 

Não fosse assim os homens que cuidam do futuro da nação já teriam tratado de parir um Plano Nacional de Esporte. Algo que apesar dos infinitos esforços feitos por alguns de nossos esportistas mais engajados até hoje não virou realidade. Por outro lado, não nos faltam exemplos do que pode pode o futebol - carro-chefe do segmento - quando explorado. Os políticos que o digam. Desde sempre se agarraram a ele como parasitas. E , em especial, nos times de maior torcida abundam exemplos de cartolas que graças ao jogo de bola construíram pontes sólidas até as Assembleias ou o Congresso. Tendo para isso praticado uma espécie de vampirismo. 

Enquanto isso o novo currículo escolar estadual que vendo sendo adaptado para entrar em vigor, com a reforma deste ano, simplesmente tira dos alunos do segundo e do terceiro anos do ensino médio a disciplina de Educação Física. Não houvesse outros motivos bastaria pensar nos alertas da Organização Mundial de Saúde com relação a obesidade de jovens e crianças para concluir que é uma decisão nada humana. Dados colhidos pelo Ministério da Cidadania no ano passado apontam que quase metade das escolas da educação básica do país não têm nenhum espaço para os alunos praticarem esportes. 

Fui formado por escolas públicas. E nunca esqueci a cena que presenciei certa vez em uma das aulas de Educação Física.  Nossa missão era a de correr, bater as mãos numa espécie de cavalete e com certa ajuda dar uma cambalhota. Um dos alunos, afoito, correu e tentou o movimento sem auxílio. Acabou caindo de cabeça no chão. Na hora começou a ter espasmos. Se contorcia. Os olhos giravam. Estava sem conseguir respirar. Ia morrer ali na nossa frente. O professor rapidamente lhe tirou do chão. Enganchou os braços com o dele, e o puxou com as costas dos dois encostadas. Seguiu-se uma série de estalos grandes e pimba ! O Márcio, nunca esqueci o nome dele, se recobrou, meio sem saber o que tinha acontecido. 

Até hoje quando penso na cena não vejo outra forma de explicá-la sem creditar o final feliz ao preparo e à excelência da formação daquele professor de Educação Física, do qual conseguia também lembrar o nome até bem pouco tempo atrás. O que me faz pensar que nosso país andou para trás. Pode parecer menos importante até falar em educação física quando se está cercado por uma realidade que devolveu o Brasil ao mapa da fome das Nações Unidas. A única certeza que tenho é a de que se um dia o Brasil vier a ser um país notável não terá sido sem reconhecer o que a Educação Física pode fazer por nós, pelo homem, por um povo.  

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