quinta-feira, 21 de julho de 2022

A defesa e a personalidade coletiva



Há muitos anos quando o futebol passava a ganhar outra roupagem, mais estudiosa, os  privilegiados de memória hão de lembrar que o basquete serviu muito de referência aos treinadores que despontavam com jeitão de pensadores. Arriscaria dizer que é possível buscar nisso até o ponto de partida de tudo que temos visto acontecer. Vou tentar explicar melhor. Os que na época se apressaram a fazer esse tipo de ponte não escondiam que viam nas preocupações com a parte defensiva do jogo a grande inspiração. Lembro de ter ouvido alguém dizer na época, tentando elucidar a teoria aos menos íntimos, que a cesta acabaria saindo. Era uma consequência natural do jogo e que, portanto, o segredo era dar atenção não ao caminho que levava a ela mas aos que a impediam de acontecer.  Não estavam errados. 

De lá pra cá vimos muitos times menos privilegiados tecnicamente executarem esse tipo de tática com sucesso e triunfar. Não quero fazer juízo disso, embora esteja convencido de que não só no esporte, como na vida, sempre será tarefa mais simples destruir do que construir. E, convenhamos, se o mundo ao longo da história deu de cara com muitas maravilhas não terá sido porque seus criadores um dia decidiram fazer o mais fácil. Mas essa é outra história.  Nomes como Pep Guardiola, por exemplo, nunca esconderam suas fontes de inspiração. O catalão já abriu o jogo a respeito citando o xadrez, o vôlei, a matemática como fonte de ideias. E o basquete, obviamente. 



Outro dia, depois de o time de Franca se sagrar campeão brasileiro de basquete batendo o respeitável time do Flamengo, troquei algumas mensagens com o técnico campeão, Helinho Garcia, filho do lendário, Hélio Garcia. Junto com os parabéns dividi com ele minha boa impressão a respeito do time que ele comandou. Eis que  para tentar elucidar o que tinha feito do time francano o campeão Helinho citou um conceito que tinha aprendido com o pai. O de que um time quando matura passa a exibir uma personalidade coletiva.  Imediatamente tentei transportar isso para o universo do futebol com o qual tanto lido. Imediatamente identifiquei times num passado recente que deixaram claro ter essa personalidade coletiva. 



O Santos de Diego e Robinho. O Palmeiras do início dos anos noventa. O Corinthians do final da mesma década. E mais recentemente o Atlético Mineiro campeão brasileiro.  O Flamengo de Jorge Jesus. Imensa personalidade coletiva. Rodadas atrás diria que atualmente só o Palmeiras dava a impressão de possuir esse tipo de virtude. Mas a temporada andou e já dá pra dizer que o Fluminense já a tem. Talvez o São Paulo, que desafiado por um sem fim de desfalques pode ter seus motivos para ainda não a ter maturado de vez. O Corinthians, como não?  Sem contar que o time do Parque São Jorge - desculpe o termo, sou das antigas - pode ser tido também como um exemplo do que pode render o cuidado, o esmero, na hora de cuidar da defesa. Enfim,  há avanços apesar de tudo.


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