quinta-feira, 9 de junho de 2022

Salve, simpatia !



A simpatia merece um capítulo à parte na história do esporte.  A imagino tão ignorada quanto o acaso num contexto geral. No futebol, então, nem se fala. Mas discorrer sobre isso não é tarefa fácil. Pra ser mais direto é literalmente aceitar o risco ou a condição de antipático. O que a define nunca foi segredo, todo mundo tá cansado de saber do que se trata. Não se faz necessário abrir um dicionário para se ter ciência que é, digamos, uma afinidade moral , uma certa sintonia no sentir e no pensar que acaba  aproximando duas pessoas ou mais. Vendo a coisa por esse prisma a beleza da simpatia nesse contexto é que ela reina absoluta.  Não tem ligação direta com a excelência técnica, por exemplo. Muito pelo contrário. 

Prova disso é que facilmente seremos capazes de buscar na memória um boleiro que mesmo longe de ser considerado um craque desfruta dessa qualidade. E já que aceitei o risco da antipatia não vou aqui me furtar a dar nome aos bois.  Está aí Dadá Maravilha que não me deixa mentir. E mais, me deixa até um pouco confortável nessa entregada já que nunca fez questão de ser visto como o tal. Sabia do que era capaz e no mais sempre foi um imenso sorriso, fazendo tudo e todos se afinarem com ele. Um exemplo ao avesso dessa teoria talvez possa ser tirado do tênis que nestes dias passados em Roland Garros mostrou bem como o sérvio Novak Djokovic anda longe de ser visto como um Dadá. 

O tratamento dispensado em Paris ao então número um do mundo foi tão cáustico que outro gigante das quadras fez questão de confessar a indignação com tudo o que andou testemunhando.  O ex-tenista John Mc Enroe não pensou duas vezes para definir o tratamento dado a Djoko como desrespeitoso.  Não sem reconhecer que o sérvio na opinião dele consegue se alimentar disso como ninguém, para em seguida confessar que no caso dele mais o atrapalhou do que ajudou. Nas palavras de Mc Enroe, o público só foi gostar dele depois que ele parou de jogar.  O que ele acha possível vir a acontecer no futuro com Djokovic.  

Mas pra trazer a conversa um pouco pro futebol de novo e já que estou no meio dessa dividida aproveito pra dizer que se tem um jogador que considero ter passado longe de ser simpático é Romário.  E, creio, já ficou bem claro nessa pensata que isso nada tem a ver com a qualidade dele como jogador de futebol. Aliás, inquestionável. Dirão os durões, talvez, que a simpatia é vizinha de uma certa subserviência, do querer estar bem com todo mundo.  O que considero um tremendo engano. O que eu acho é que a simpatia verdadeira não dá liga com a menor porção que seja de vaidade. Ela, com a maior elegância, desafia até os malandros. Que até podem gozar de certa empatia, o que é outro lance. Ainda que como a simpatia faça você olhar com certa ternura até pra alguém que não veste a camisa do seu time.  

Há figuras que não gozam de uma coisa nem outra.  E aí já viu. Que o digam Luiz Adriano e o técnico Paulo Sousa.  Sou capaz de admitir que tanto a falta de uma como a da outra pode selar destinos. No afã de tentar explicar a antipatia por Djokovic o ex-número um do mundo Mc Enroe deixou escapar um : eles são tão incríveis, eles se comportam tão bem. Falava de Nadal e Federer. Mas simpatia, Mc Enroe que me desculpe, também não é algo definido pelo comportamento, ou só por ele. A simpatia é mais profunda do que isso.   

2 comentários:

Anônimo disse...

Interessante o tema, e difícil discorrer sobre ele!
Não vejo como quesito indispensável a simpatia, desde que haja educação e respeito! Bem lembrado o Romário, que sempre soube que lhe bastava o talento, sem necessidade de agradar ninguem! E estava tão certo ninguém. Estava tão certo que que se elegeu para o Senado, e deve envelhecer na política!
Há pessoas públicas que chegam a engessar o mesmo sorriso largo tentando ostentar uma simpatia que não têm!
O insuportável mesmo é a arrogância, sorrisos debochados, expressões desafiadoras..."tá" cheio de atleta assim por aí...rs

Vladir Lemos, jornalista disse...


Realmente, a arrogãncia é insuportável.
A simpatia, ainda que não sendo indispensável, muito bem vinda.