quinta-feira, 2 de junho de 2022

Os treinadores



O famoso historiador Paul Johnson tem uma série de livros genial. Livros que contam as histórias dos grandes intelectuais, dos grandes heróis e dos grandes criadores que o mundo já teve. Pequenos relatos biográficos que traçam um perfil e dão a dimensão de cada um deles. Trajetórias  cheias de pormenores incríveis que, aliados à prosa sedutora de Johnson, me fizeram devorar os livros. Se meu conhecimento editorial não me trai o único detalhe dessa citação é que são obras que estão fora de catálogo. Mas quero crer que em sites de livros usados seriam facilmente encontradas. 

Lembrei desses livros por causa de uma das tantas associações que nossa cabeça faz independentemente da nossa vontade. Neste momento em que tanto se fala dos treinadores não seria má ideia fazer um livro sobre eles: Os treinadores. São figuras sempre magnéticas. E com um pouco de boa vontade não seria difícil acreditar que alguns poderiam estar inseridos entre os heróis.  Mas antes que a conversa acabe desaguando nestes nomes pra lá de consagrados, tidos como sinônimos do que o ofício revelou de melhor, um detalhe. Entre os profissionais em atividade hoje no futebol brasileiro cito de cara o palmeirense Abel Ferreira. Títulos à parte, já disse aqui que há um viés muito pouco ressaltado sobre esse personagem: a idade. 



Abel tem quarenta e três anos. É o mais novo entre os que transitam neste patamar por aqui. Pode parecer banal. Mas a juventude dele é tão reveladora em certo sentido quanto o fato de ter atravessado o Atlântico sem trazer na bagagem título algum e aqui passar a reinar e a conquistar como poucas vezes se viu.  Não que  outros estejam muito distantes disso. Aliás, esse é outro fato sobre o qual, creio, vale jogar alguma luz.  Nomes como Pep Guardiola e Klopp, que podem ser apontados como os homens que dão as cartas no ramo nos dias atuais, estão longe de ser velhos. Pep tem cinquenta e um anos.  Quando ganhou a primeira Liga dos Campeões com o Barça era mais novo do que Abel, estava com trinta e oito anos. Klopp é um pouco mais velho. Está com cinquenta e quatro. Mas quando despontou no comando do Borussia, à frente do trabalho que lhe abriria as portas do Liverpool, tinha praticamente a idade de Abel Ferreira. 

E com isso quero dizer que na história recente parece ter ocorrido um rejuvenescimento entre os treinadores. Algo que pode estar se dando também com outras profissões, não descarto que seja um sinal dos tempos. Outro português, José Mourinho, que acaba de voltar a ficar em evidência ao levar a Roma ao primeiro título continental de sua história com a conquista da recém criada Conference League  tá no time. Tem cinquenta e nove, mas se fez campeão europeu com o Porto quando tinha apenas quarenta. 

Mesmo Carlo Ancelotti, com seu Real Madrid de viradas e resistências de fazerem cair o queixo, que pode até soar meio como um intruso nesse time também é sinônimo dessa jovialidade.  Estava para fazer quarenta e quatro quando levou o Milan a um triunfo na Champions que ele repetiria quatro temporadas mais tarde. Aos sessenta e dois acaba de se tornar o maior vencedor da Champions.  Já não sei onde poderia ser colocada exatamente uma fronteira. Sei que os treinadores muito bem sucedidos sempre me pareceram mais velhos. E sempre um tanto heróis. Acho que essa final da Champions mexeu com a minha cabeça.   

 

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