sexta-feira, 9 de abril de 2021

O passe pro lado, a saúva do futebol brasileiro



Vou dizer uma coisa pra vocês.  E imagino que muitos irão concordar comigo. Não quero, de nenhuma forma, colocar ninguém mais pra baixo do que o momento da nossa história nacional já tem se encarregado de fazer.  Mas, vejam, tenho a nítida sensação de que o futebol deixou de ter aquele encanto, sabe? Aquele que nos fez desde crianças se render a ele. Sei que a grossura de muitos tem dado enorme contribuição nesse sentido. Bem como todos os tempos de quarenta e cinco minutos que temos testemunhado e que seguidas vezes têm chegado ao fim nos ofertando no máximo a chance de admirar uma ou duas bolas tomando verdadeiramente a direção do gol. 

Mas sempre tive comigo que esse desencanto deveria, no fundo, ter uma causa mais transcendente, menos óbvia. Há muito tempo desconfiava do para lá de improdutivo passe pro lado. Essa praga. O passe pro lado é a saúva do jogo de bola. Algo naquela linha que pregou certa vez um estudioso francês: ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil. É isso. O passe pro lado atenta contra o andamento do jogo. E toda obra tem um andamento. Está aí o cinema e a música pra provar. Sem a indicação do andamento uma partitura se torna quase um enigma. 

E devo dizer, minha desconfiança virou certeza ao ouvir dias trás uma entrevista do sábio e pragmático, Pep Guardiola, para a repórter Natali Gedra. A certa altura da conversa o treinador do Manchester City deixou clara a importância do ritmo na execução do jogo. Mais notável do que ouvi-lo dizer que antes de jogar rápido é preciso saber jogar lento foi ouvi-lo dizer a razão de preferir um time que seja rápido, mas não muito. Como diz a língua da música, allegro ma non troppo. Segundo Guardiola a preferência por esse andamento se dá pelo fato de que um pouquinho mais lento é possível ver as coisas mais claras. O ritmo adequado permite que os jogadores usem melhor suas qualidades e tomem decisões mais acertadas em situações limites. Como perto da área, por exemplo. 

Tenho certeza de que você, como eu, admira a velocidade e saberá lembrar rapidamente de um lance em que ela foi decisiva e bela, mas também como eu , provavelmente, terá se convencido que o passe pro lado é mesmo um dos  grandes atentados ao ritmo da peleja. E que a falta de um andamento sedutor é que tem nos deixado com essa sensação angustiante de que o encanto já era.     

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