quarta-feira, 16 de setembro de 2020

A Libertadores é o que parece?



Eu gosto desse papo sobre a importância que a Copa Libertadores ganhou nos últimos anos. Por uma razão simples: vejo nele a possibilidade de entender melhor o que seduz de verdade o torcedor.  Como é que a emoção se processa na cachola de quem ainda gasta tempo e saliva com o jogo de bola. Não teço teorias mirabolantes, de modo que considero a enorme exposição na mídia capaz de  explicar em boa parte o que temos visto. Essa quase febre. Que os clubes a tenham comprado no sentido literal e figurado é óbvio. E se trata de reação intimamente ligada aos cofres. A bolada que cai na mão do campeão é considerável. 

Some-se a isso a possibilidade de figurar ao lado do campeão da Europa no Mundial de clubes e a fórmula da sedução talvez esteja desvendada. O verbo figurar nesse caso foi escolhido a dedo, não foi usado à toa, pois sempre correremos esse risco. Com já vimos acontecer. E a coisa só vai mudar no dia em que o futebol que se joga aqui for de alguma forma parecido com o que temos visto ser jogado na Europa. Enfim, lembro que tempos atrás a fase de grupos da Libertadores era encarada com certo desdém.   Um jogo aqui, outro ali, prendiam a atenção do torcedor. Mas era na reta final que a coisa dava liga. Hoje em dia, não. Os tambores rufam desde a chamada pré-Libertadores. Região da disputa que, se merece alguma fama, é mais por ter sido local de naufrágios improváveis de times ditos favoritos do que propriamente por sua importância. 

Digo mais, acho que essa volta - da maneira que está proposta - um tanto absurda. Dá a impressão de relevar totalmente o momento que o mundo atravessa. Manter a tabela assim, com jogos de ida e volta, obrigando delegações a frequentar aeroportos e outros locais, a fazer deslocamentos internacionais, é de uma insensibilidade enorme.  Certamente não foi por amor ao futebol que se decidiu desse modo, muito menos por respeito à saúde dos atletas e suas famílias. Sem contar que o formato com jogos únicos se mostrou capaz de contribuir bastante para aumentar a emoção em torno das partidas. Sem contar que estamos falando de uma edição que mal tinha começado. O que , em outras palavras, significa manter um número significativo de jogos num cenário que segue sendo de pura incerteza.E se falo dessa questão dos jogos únicos é não só porque seria um modo de poupar a parte física dos jogadores, mas também uma maneira de favorecer a melhora da qualidade técnica. Ainda que na cabeça do torcedor, tudo leva a crera emoção seja ingrediente capaz de suprir a falta de beleza muitas vezes


Longe dos mata-matas considero a Libertadores tecnicamente um torneio que deixa muito a desejar, pra não dizer que em alguns momentos apresenta um nível capaz fazer  um entendido no assunto corar de vergonha. E é de se esperar que a pandemia, frequentemente acusada por aqui de complicar o padrão de jogo e o trabalho das comissões técnicas, torne essa edição da Libertadores um tanto  mais opaca. Sem contar que cada país viu seu futebol voltar a cena em um momento. Dando aos times brasileiros alguma vantagem nesse sentido, já que voltaram a treinar já faz algum tempo. Enfim, acho a Libertadores um pouco uma metáfora desse nosso tempo em que, como dizem, quase tão importante quanto ser é parecer.     

Um comentário:

Lucy Serrano disse...

Amigo, na minha humilde opinião, a Libertadores só reflete a total incompetência da Conmebol e dos dirigentes sulamericanos. Falta organização, respeito, honestidade e inteligência. Lembra muito a política...