segunda-feira, 6 de julho de 2020

O futebol é a nossa cara



O futebol segue sendo o mais fiel retrato do nosso país e por tabela de seu povo. Gostaria muito de poder negar que se trata de uma obra nossa mas não dá. Poderia aqui usar o jogo entre Flamengo e Bangu  que marcou a volta do futebol profissional ao nosso país depois da paralisação causada pela pandemia do coronavírus como exemplo. Mas sou levado a crer que o que se deu no Maracanã foi apenas um lamentável efeito colateral de tudo o que anda se desenhando nos bastidores. Notem, não podemos acusar os cartolas de inércia. 


Notadamente desde os primeiros dias trataram de se mexer. Correram à Brasília rapidinho. É sempre lá que se desembola o meio de campo. E a vitória está perto. Entre outras ajudas, os clubes terão o direito de suspender o pagamento do Profut durante a pandemia. Conhecendo o Brasil seria o caso de perguntar : quem exatamente irá dizer quando a pandemia acabou ? Como é o caso de perguntar se não seria correto dar tal benesse apenas aos clubes que trataram o refinanciamento das dívidas com o devido respeito, já que apenas nove dos trinta e seis clubes que se inscreveram no programa não devem ao governo. 

E há outras questões que merecem uma lupa. Como a medida provisória assinada pelo presidente da República, imediatamente apelidada no Congresso de MP do Flamengo. Aquela que veio depois de algumas visitas do presidente rubro-negro ao planalto. Nela são vários os tópicos, mas o principal é dar aos clubes mandantes o direito de negociar os jogos com as emissoras. O que em um primeiro momento pode parecer simples, mas muda todo o modo como as partidas vinham sendo negociadas, além de deixar a impressão de favorecer o time da Gávea e criar outra realidade para a TV Globo - principal parceira dos  clubes brasileiros - com quem o presidente tem andado às turras.  Agindo assim estão cuidando exatamente dos interesses de quem?  

Não tardou para que alguém dissesse que a mudança favorecerá o  espectador.  Mas sabemos muito bem que  se isso acontecer terá sido por tabela.  Todo o resto  foi relegado à segundo plano. Os atletas, os funcionários dos clubes.  Disso o jogo no Maracanã é prova. Facilitado por um protocolo refeito e assinado na véspera, depois de termos visto equipes voltando a treinar sem autorização. A Alemanha precisou um mês para que um protocolo de cinquenta páginas fosse feito e colocasse todos os clubes sob às ordens que ele ditava.  Protocolo que duas semanas depois foi aprovado pela chanceler Ângela Merkel.  Com um detalhe: lá tudo se reiniciou quando a curva de contágio estava claramente em queda. Mas que certeza temos aqui? 

A CBF acaba de anunciar que o Brasileirão pode voltar no dia 09 de agosto. Será? Na Espanha a retomada se deu setenta e um dias após  o pico do contágio. Na Inglaterra,  foram setenta e oito dias. Sei que muitos são os argumentos que embasam tudo o que vem sendo feito no sentido da retomada. Mas a impressão que tenho é que na falta de unidade para tratar o problema estamos todos, como sociedade e como torcedores, perdidos.  Que cada região tenha seus números e sua realidade sou perfeitamente capaz de compreender. Mas quando se trata de esporte parto do seguinte princípio: a igualdade de condições é imprescindível.  Então, que se tenha a sabedoria de retomar tudo quando todos os envolvidos em uma competição estiverem vivendo uma mesma realidade. 


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