segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O outro lado

Foto: Alexandre Cassiano/O Globo


Achei muito estranho o embate verbal que se deu entre o técnico do Botafogo e o do Flamengo depois do jogo entre os dois times dias atrás. Poderia dizer deselegante, mas estranho soa mais preciso e vocês irão entender a razão. Até já vimos gente por aí reclamar do anti-jogo do adversário. Mas Jorge Jesus, o treinador rubro-negro não usou meias palavras, afirmou que o time de Alberto Valentim tinha baixado o sarrafo no dele.  E aí está uma coisa difícil de medir. À parte certos lances que não deixam dúvidas, e quem é do ramo facilmente os identifica, onde é que o jogo pesado pra cima de alguém se torna desleal? 

E se digo isso é porque vendo a partida considero que não é tão fácil assim comprar nem a ideia de um e nem a suposta inocência do outro. Valentim apresentou lá seu argumentos, fez questão de dizer que o time dele tinha sido aguerrido, o que poderia servir para elucidar o que se viu em campo, mas no fim foi muito mal quando depois de contestar os termos usados pelo técnico adversário colocou no fim da frase um aqui no Brasil que, de imediato, lhe inseriu num grupo de profissionais que infelizmente só cresce e que teima em fazer essa distinção entre os daqui e os de lá. 

Mas acho que é preciso levar em conta um outro detalhe. O talento de Jesus para esse tipo de embate.  Já havia dado provas de excelência nesse sentido nos dias em que antecederam o encontro do time dele com o de Renato Gaúcho, por sua vez exímio nessa arte como sabemos. Recordo esse detalhe só para levantar a hipótese de que o tipo de jogo apresentado pelo Botafogo não tenha sido exatamente desleal, estava dentro do aceitável, mesmo estando longe de ser um jogo leve, pensado pra bola. Mas eis que Jesus viu nele a deixa que precisava para proteger seu time. E quem tem um time fino como ele tem não pode perder uma deixa dessa. É, ou não é, cabível o raciocínio? 

Enfim, acho necessário ter isso em mente, pesar a condição privilegiada que o português conquistou. Se alguém tem voz hoje no futebol brasileiro é ele, visto como o tal. Não erra e nem é desleal ao perceber tudo isso. Acho que se uns duvidam de que ele possa ensiná-los algo ligado às táticas não deveriam duvidar de que há algo a aprender com Jesus e que tem a ver com a questão humana. É o tipo de papo que pode não colar pra um jogo que se dê em Rosário , na Argentina, ou em La Bombonera, que fica lá também. E se afirmo isso é porque não ouvi nesse zum zum zum todo alguém que tivesse dito, categoricamente: olha não foi bem assim.  E sacar onde há esse espaço de manobra não deixa de ser notável. 

Enfim, a minha intenção é a de provocar alguma reflexão. E querem ver outra coisa que pode existir por trás de si e pelo que sei até hoje ninguém levantou a hipótese? Essas modificações que vira e mexe Sampaoli faz no time santista. Em espacial a que mexe com a posição do Victor Ferraz. Talvez nem o argentino ache que é o ideal, mas talvez tenha convicção de que com ela tira a equipe da zona de conforto, força seus comandados a expandir os limites. É normal que uma ideia bem defendida ganhe um ar de verdade. Mas é preciso sempre ter em mente que tudo, simplesmente tudo, tem um outro lado.

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