quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A sedução das tabelas


Lembro bem que na minha época de moleque gostava de organizar campeonatos de futebol de botão. Mas quase todas as vezes - apesar do grande número de times - por trás de todos eles existiam apenas duas figuras que se enfrentavam: eu e meu irmão. E o mais louco de tudo ao lembrar disso tanto tempo depois é resgatar da memória também comentários do tipo: esse time tá bem, aquele outro está mal, quando na verdade quem estava por trás das equipes citadas podia ser a mesma pessoa. Alguns campeonatos duravam semanas. E se fazíamos comentários do tipo, lembro bem, era porque uma das grandes curtições era tecer a tabela de classificação. E acho que só esse passado explica a relação que continuo tendo com tabelas até hoje. Vira e mexe me pego olhando a do Brasileirão, entre outras. Mas é dela que eu quero falar. Sei que se houver entre os leitores um torcedor do Avaí , corro o risco de que me mande passear, abandone a leitura imediatamente, sabedor que é da condição do time dele. Enterrado na lanterna há uma eternidade de rodadas. 

O que está longe de ser o caso de Flamengo, Palmeiras e Santos, os três primeiros colocados cujas pontuações estão entre as maiores da história recente de pontos corridos do Brasileirão para suas colocações. Mas entre eles e o Avaí existe um mundo a ser explorado. Tenho gostado particularmente de olhar o Vasco, posudo como seu comandante, a essa altura cavando um lugar no meio da tabela. É muito? Não. Mas me parece mais do que o reconhecimento que é dado ao time e ao trabalho de seu treinador, Vanderlei Luxemburgo, que se segue longe do olimpo mostrou que mesmo ausente de grandes conquistas está longe de ser um comum.  A essa hora, apesar de ter um jogo a mais, ostenta a mesma pontuação do Bahia vira e mexe elogiado com entusiasmo pela crítica. Os azedos dirão que há jeitos e jeitos de garantir  um lugar desse na tabela, o que é verdade.  Como é verdade que não se fica no meio dela por puro acaso. 

E mais, as linhas que determinam o limiar entre ficar ou cair pra segundona também inspiram reflexões e garantem boa diversão aos amantes de uma tabela como eu. Cruzeiro e Fluminense parecem fadados a um desgostoso duelo particular. Estão na fronteira do descenso, um do lado de fora e o outro no de dentro. A tabela , meus amigos, é sempre um bom parâmetro. O caro leitor ao lembrar do Grêmio, por exemplo, é capaz de recordar dele um tanto vacilante. Caiu na Libertadores, acaba de perder em casa para um Flamengo reserva, mas basta ir lá dar uma olhada na tábua pra que o fôlego e a arrancada pós trauma continental do tricolor gaúcho - apesar dos pesares - se faça explícita. 

Assim como olhando a bendita  é preciso reconhecer o que vem fazendo o Fortaleza, para quem permanecer na primeira divisão já seria um feito. Dá pra dizer também que a tabela é um dos charmes de um torneio por pontos corridos. Ainda que um charme discreto que os amantes do velho mata-mata terão sempre dificuldade em reconhecer. E , além do mais, tem uma outra virtude, nos garante boas doses de emoção e diversão mesmo depois de o título já estar decidido. O que pelo andar da carruagem pode acontecer depois de amanhã.

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