quinta-feira, 12 de setembro de 2019

O treinador



O treinador foi desde sempre personagem dos mais intrigantes do mundo do futebol. Graças a eles temos sido condenados a vira e mexe dar de cara com aquela velha questão que nos interroga a respeito da capacidade deles de ganhar, ou não, uma partida. Mas não quero ressuscitar esse questionamento que, enfim, sumiu das conversas para a salvação de todos. Outro lugar comum é dizer que eles ganharam importância demais. Um raciocínio com o qual é difícil não concordar quando se olha o futebol sob a perspectiva das últimas duas décadas. Os mais velhos irão lembrar que quando os anos noventa saíram de cena já tínhamos visto Luxemburgo viver dias de rei. Mas basta se entregar ao noticiário dos últimos dias e ficará comprovado  que os treinadores continuam desfrutando de um status invejável. 

Não que a chegada de Mano Menezes ao Palmeiras não merecesse muita atenção, ou que o discurso duro de Rogério Ceni depois da goleada sofrida para o Grêmio não fosse tema da maior importância. Entender onde mora exatamente esse exagero não é tarefa fácil, exige uma grande reflexão sobre o modus operandi da mídia, ou das possibilidades que a realidade lhe dá nos dias de hoje. Em linhas gerais, é possível que uma pergunta ajude a deixar mais claro o que quero dizer: quantas outras pessoas deveriam ser ouvidas a respeito de tudo que envolve a chegada de Mano ao Palmeiras ou a respeito do beco  sem saída com que Rogério Ceni se deparou ao aceitar ir para o Cruzeiro? 

A conclusão a que chego é que os treinadores pelo protagonismo que lhes foi dado são hoje a parte mais exposta dessa engrenagem. Jogadores torcem cada vez mais o nariz para conceder uma entrevista. No fundo o que os treinadores vivem é muito parecido com o que vive qualquer ser humano, inclusive os craques, altos e baixos. E isso vale para nomes que hoje soam grandiosos, como Osvaldo Brandão, João Saldanha, Aymoré Moreira e tantos outros. Mas talvez Telê Santana seja o mais indicado para apontar esse viés tão humano e imperfeito do qual nem os treinadores de futebol escapam. Não só porque também o viveu, mas principalmente por sua história ter se dado mais recentemente. Era a figura maior por trás da inesquecível seleção brasileira de 1982 mas contestado até o dia em que, à frente do São Paulo, conquistou a América e o mundo. Triunfos que definiram pra sempre o lugar de Telê nesse panteão. 

E os mais detalhistas irão lembrar o quanto o destino precisou ser caprichoso para que ele seguisse como técnico do tricolor na época. Falo disso porque neste momento em que dois estrangeiros ocupam a ponta da tabela do Brasileirão dando a impressão de que o fato incomoda muitos dos nossos treinadores, acho importante apontar que esse filtro do tempo deve ser a grande baliza. Sucesso efêmero muitos tiveram, mas para que um dia um Sampaoli ou um Jorge Jesus ocupem um lugar como o que a nossa história reservou ao húngaro Bela Guttmann, por exemplo, vai chão. Mas o que ninguém diz, e que ouvi dia desses de alguém que conhece bem o mundo do futebol, é que é quase uma ilusão achar que hoje em dia os treinadores têm muito poder. Esse, na verdade ,  está nas mãos dos diretores e dos agentes. 

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