quarta-feira, 19 de abril de 2017

Quando o futebol surpreende

O que se diz é que o futebol, mais do que qualquer outra modalidade, tem uma veia imprevisível. Um jogo em que tudo é possível, por mais que a grana trabalhe dia a após dia no sentido de formar esquadrões imbatíveis, ou de montar uma panelinha de afortunados. O sucesso da empreitada é indiscutível. Não é qualquer um que pode pedir lugar na patota dos abonados Chelsea, City, PSG, Real Madrid, Barcelona e por aí vai. Discutir a origem do dinheiro de cada um, como manda a etiqueta, é coisa que não se faz. Só que não é de acontecimentos dados neste panteão que quero falar, por mais que uma sapecada do PSG ou da Juventus pra cima da nobreza catalã da bola dê muito pano pra manga. 

O normal entre os endinheirados é, em geral, não existir diferenças gritantes. Mas, como se sabe também, isso não impede a ostentação ou a exibição de um invejável poder de compra, arma infalível pra se deixar claro quem se é ou, visto de outra forma, pra deixar claro que se está longe de ser qualquer um. Também não é do chocolate imposto pela Ponte ao poderosíssimo Palmeiras que quero falar. Mas admito que se trata, sim, de uma reflexão provocada pelo time de Campinas e seu placar de respeito pra cima dos palestrinos. 

É que há algo grandioso camuflado em resultados dessa estirpe. Não tenho medo de afirmar que desde os mais remotos tempos um resultado inesperado oxigena o futebol, dá a ele um vigor. É como se nos obrigasse a lembrar, a levar em conta, que ali entre as quatro linhas continua existindo lugar pro sonho, pro triunfo dos que podem menos. Quando um time dito pequeno triunfa sobre um outro cheio de recursos, de histórias e de poderes, deixa pairando no ar a beleza que se esconde no suor do trabalho diário. Dá luz a quem deu um duro danado e no fim de um dia de trabalho teve razão pra acreditar que valeu a pena tanta labuta. Na maior parte das vezes tudo volta a ser como antes depois de uma vitória desse tipo. Mas que a danada é bonita, ô se é.

Esta aí um dos jeitos que o futebol tem de imitar a vida. A vitória do pobre jamais terá a retumbância da vitória dos nobres. Porque diante dela os que tem voz costumam se ocupar mais com a explicação da derrota do que com a exultação do triunfo. E os mais atentos sabem bem a força que se fez, nos regulamentos dos Estaduais, para evitar surpresas do tipo. Mas elas resistem e isso é lindo. O pequeno que vence acordará sempre maior do que era. O resultado surpreendente é uma arma que o futebol tem pra nos avisar - vez ou outra -que também há mais mistérios entre o homem e bola do que pode imaginar nossa vã filosofia. Ah! E aproveito pra deixar aqui os parabéns ao tricolor Rodrigo Caio que teve, em campo, a coragem de remar contra a maré

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