quarta-feira, 29 de março de 2017

O futebol tá chato !

Por mais que o futebol ande pobretão em termos técnicos continua, e continuará, produzindo astros. Está na alam do negócio. Dizem que a mídia gosta de fabricar heróis e o futebol jamais reclamou. Um jogador elevado às alturas turbina as cifras. E matar a galinha dos ovos de ouro é coisa que não se faz. A mídia anda tão decisiva que o bandeirinha insultado por Messi, o que levou o argentino a ser suspenso, confessou que nem entendeu os insultos na hora e que só teve ideia do ocorrido quando viu a repercussão. O mecanismo explica porque hoje em dia se cola tão fácil o rótulo de craque em atletas que sequer engraxariam as chuteiras de um. 

Os elegidos estão aí e todos os conhecem muito bem. Não só pelo jeito de falar, mas pelas namoradas, pela invejável multidão que alimentam via redes sociais. Mas na semana passada um personagem de outra estatura midiática me chamou a atenção. Na busca de uma pauta para tratar do jogo entre Palmeiras e Mirassol eis que o jornalista, Emilio Botta, usou como gancho o reencontro do goleiro Vagner, do time do interior paulista, com o time alviverde, equipe com a qual ainda tem contrato até 2019. Vagner começou a interessar à grande imprensa quando em 2014 foi um dos destaques do Ituano, que tiraria o título paulista do Santos, graças a uma defesa feita por ele na disputa por penaltis. 

Depois disso foi procurado por times grandes mas acabou indo para o Avaí. Com o time catarinense foi do céu ao inferno. Viveu a alegria da volta à primeira divisão e na temporada seguinte a dor do descenso. O insucesso não lhe impediu o progresso. Acabou contratado pelo Palmeiras. E quis o destino que uma lesão afastasse o goleiro Fernando Prass dos granados e lhe alçasse à condição de titular. Mas o que era pra ser o apogeu não durou mais do que três partidas. Sem jogar bem viu o companheiro Jailson crescer- cair nas graças da imprensa - e ficar com a oportunidade que parecia dele. 

E foi simplicidade pra descrever o que viveu que Vagner me assombrou. Tratou o insucesso de modo cru. Disse ter sido um erro dele mais do que qualquer outra coisa. Não foi medo. Não era para ser, avisou. Em seguida admitiu que o que lhe resta é correr atrás e se tiver outra oportunidade fazer bons jogos. Quando o Avaí caiu, com lágrimas nos olhos, o arqueiro fez questão de lembrar dos campos de treinamento cheios de lama e dos salários atrasados. Lembrou ao repórter, ao ser questionado a respeito, que as cotas de televisão quando chegam muitas vezes são usadas pra saldar dívidas antigas, e que esperar melhorias nos gramados soava como fantasia. Afinal, se o clube não tinha conseguido nem bancar salário em dia, seria ingenuidade esperar melhorias no Centro de treinamento. E pra não deixar dúvida finalizou dizendo que hoje em dia o futebol dos times pequenos está largado.

Digo pra vocês que vi ali uma transparência que não tenho visto nas figuras que a mídia tem elegido nas últimas semanas. Jogadores como o palmeirense Felipe Melo, como o  são-paulino Maicon. Figuras que, coincidentemente, entre uma declaração e outra - dessas que a crônica gosta de explorar - fizeram questão de nos lembrar que o futebol anda chato. Aliás, frase das mais ouvidas nos últimos tempos. Concordo com eles. Mas se está chato não é por acaso.    

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