quarta-feira, 1 de março de 2017

O ano vai começar

Diz a lenda que o ano só começa quando o carnaval acaba. Mas conhecendo bem este singular país não seria exagero dizer que o ano começa mesmo é na primeira segunda depois da quarta-de-cinzas. Pois você - como bom brasileiro - há de saber como é. Terminada a folia sobra só um restinho de semana e aí quando a gente pensa em trabalhar dá de cara com a sexta -feira e ninguém é de ferro. 

Agora, vamos falar sério. Por mais que esta maneira de pensar esteja arraigada no nosso imaginário ouso dizer que ela é um desrespeito com quem desde sempre não teve outra saída a não ser correr atrás da bola, nesse caso em sentido figurado. E o time dos que jamais tiveram outra saída é imenso. Quero crer, muito mais numeroso do que o time que espelha esse modus vivendi, essa grandeza. Talvez só mais uma questão, entre tantas, que acaba soando como verdade pela visão de mundo imposta por uma minoria. 

Mas se faço aqui essa abertura é pra dizer que o calendário atual do futebol brasileiro tem ao menos a virtude de colocar por terra isso tudo. O carnaval nem bem acabou e já vimos o São Paulo vencer na Vila depois de um longo jejum. O Corinthians vencer o Palmeiras em Itaquera com um a menos e com um gol solitário daquele que talvez seja o mais contestado atacante do futebol brasileiro. Vimos o Botafogo e o Atlético Paranaense enchendo suas torcidas  de orgulho, travando verdadeiras batalhas por um lugar na fase de grupos da Libertadores. E que batalhas. Daria pra dizer, como se diz por aí, que gente como o atacante Rodrigo Pimpão e o goleiro Gatito Fernandéz já ganharam o ano. O primeiro ao marcar e o segundo ao evitar gols que deram outro horizonte ao time carioca. 

Até mesmo esse Mirassol que acaba de conhecer a primeira derrota no Campeonato Paulista, mas que ainda ostenta a segunda melhor campanha do torneio na frente de muita gente grande merece registro entre os acontecimentos deste ano que dizem alguns nem teria começado. E vai dizer pro Xuxa, artilheiro do Mirassol e do Paulista, que o ano ainda vai começar, vai lá. Mas como nem só de grandes feitos e feito um país. E pra que não digam que nosso futebol passou a ser exemplo, tivemos aquela bagunça na semifinal do Campeonato Carioca, quando quarenta e oito horas antes da partida a torcida ainda nem sabia se Vasco e Flamengo iriam jogar e onde. 

Cá entre nós, o futebol brasileiro tá longe de ser exemplo. E toda essa pressa no fundo só o torna mais imperfeito do que já era. Seja como for, não custa tentar, vamos copiar o calendário do velho futiba, vamos mandar pro Congresso, pro Senado. Vamos fazer quem decide o rumo dessa nação entrar em campo sem pré-temporada. Sem descansar as setenta e duas horas que prometem colocar qualquer atleta em forma de novo. Quem sabe não chegaremos à conclusão de que o sujeito que bolou esse nosso calendário atual na verdade é um gênio. E se não virar, que valha a mais velha lei do futebol: não deu resultado a gente troca.

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